|
|
|
Rubrica
Falar Saúde
1 de Fevereiro de 2012 |
|
"Ao beber chá sozinho...
Com as minhas próprias mãos, seguro uma chávena de chá. Vejo toda a natureza representada na sua coloração verde.
Ao fechar os meus olhos encontro montanhas verdes e água pura dentro do meu próprio coração.
No silêncio, sozinho e bebendo chá, eu sinto-os a tornarem-se parte de mim."
Soshitsu Sen
Falar Saúde Nº 26
Chá das cinco
Os meses de janeiro e fevereiro são,
tradicionalmente, os meses mais frios do ano em Portugal e é nesta
altura que aquela camisola fofinha, a lareira ou a botija de água
quente, se tornam irresistíveis. É também nesta altura que o chá, para
quem aprecia, ocupa um papel importante nesta busca pelo calor
instantâneo, não apenas para o corpo, mas também para a alma. Mais do
que um ritual ou um momento de convívio, o chá hidrata e, apesar da
maioria dos estudos científicos não serem conclusivos, existem
evidências que associam o consumo de chá a uma série de efeitos
benéficos para a saúde, incluindo a redução do risco de determinados
tipos de cancro, perda de peso, prevenção da osteoporose, saúde
cardiovascular e proteção contra a doença de Alzheimer.
Consciente de que haveria muito a dizer sobre o
chá, destaco aqui alguns aspetos que me pareceram interessantes pela sua
curiosidade/ utilidade.
O chá aparece frequentemente associado ao
continente asiático, mais propriamente à China, mas o que nem todos
sabem é que não se tem a certeza de como tudo começou. Conta a lenda que
no ano 2737 a.C., o imperador chinês Shen Nung e a sua corte estariam a
fazer uma pausa durante uma viagem e, enquanto esperavam que os criados
fervessem água para beber (ideal para matar a sede por ser mais
rapidamente absorvida pelo corpo do que as bebidas frias), algumas
folhas de um arbusto terão caído dentro da mesma, produzindo um líquido
acastanhado e perfumado que o imperador provou, gostou e rapidamente
divulgou.
Para os chineses, o chá está associado à
beleza, pelo ritual da sua preparação, pela satisfação e paz que provoca
e por ser um complemento essencial do convívio. O segredo da preparação
do chá foi muito bem guardado pelos chineses e só em 1843 se descobriu
que todos os tipos de chá provinham de uma mesma planta, a Camellia
sinensis. É verdade! Na linguagem popular referem-se como "chás"
variadas infusões e tisanas de ervas, quando na realidade, o chá é uma
infusão de folhas secas proveniente de um tipo de camélia originária da
China.
Existem 4 principais tipos de chá – preto,
branco, verde e oolong – mas cada um tem centenas de subtipos. A
diversidade de aromas, cores e sabores dos diferentes tipos de chás
dependem das regiões de origem, do tipo de folhas e das seleções que
constituem os lotes. Facto curioso é que um dos melhores chás do Mundo
(preto e verde) é produzido nos Açores, em S. Miguel, na localidade de
Gorreana, nas variedades Orange Pekoe, Broken e Moinha.
As folhas do chá contêm, entre outros,
polifenóis, aminoácidos, cafeína, açúcares e ácidos gordos. A cafeina é
um estimulante do sistema nervoso central e apresenta-se, curiosamente,
em maior quantidade no chá do que no café. No entanto, como o chá é
utilizado em menor quantidade, a bebida resultante fica mais fraca. Além
disso, a cafeína que existe no chá é absorvida muito mais lentamente,
provocando um efeito mais tonificante, prolongado e ligeiro. A adição de
uma gota de limão ou leite ajuda a precipitar a cafeína. Os polifenóis
são os componentes da folha do chá que se encontram em doses mais
elevadas, chegando a atingir cerca de 30% da matéria seca dos rebentos,
e são também os mais importantes e característicos da folha do chá,
primeiro porque são os principais intervenientes nas alterações químicas
que ocorrem durante o processo de fabrico e depois porque têm sido
identificados pelos investigadores como os compostos potencialmente
bioativos da bebida. Os polifenóis, como os flavonóides ou as
catequinas, funcionam como antioxidantes que são moléculas que combatem
os “radicais livres”, ou seja, os responsáveis pelo envelhecimento
precoce e por algumas doenças como o cancro. O chá verde, tão
publicitado atualmente, contém entre 30 e 40% de polifenóis extraíveis
da água, enquanto que o chá preto (chá verde oxidado por fermentação)
contém entre 3 e 10%.
As infusões e tisanas feitas a partir de várias
plantas, que vulgarmente referimos como sendo "chás de ervas", são
bebidas úteis para quem não gosta de beber água. Não sendo verdadeiros
chás, como referido anteriormente, quase todas são inofensivas e podem
até trazer vantagens, como por exemplo:
-
Alecrim – ajuda a aliviar os gases e
cólicas;
-
Camomila – é utilizada como calmante,
auxilia a digestão e alivia as cólicas menstruais;
-
Dente-de-leão e pé-de-cereja – são
diuréticos;
-
Erva-cidreira e tília – são utilizadas como
calmantes;
-
Erva-doce – ajuda a aliviar irritações no
estômago;
-
Fruto da roseira – rico em vitamina C, pode
substituir o sumo de laranja;
-
Hortelã – tem ação refrescante e é um
estimulante da digestão;
-
Sabugueiro – alivia os sintomas de gripes e
constipações;
-
Tomilho – é recomendado para problemas
gastrointestinais, para além de aliviar a congestão pulmonar.
Há, no entanto, infusões e tisanas de ervas com
atividade farmacológica muito intensa, normalmente utilizadas com fins
terapêuticos (algumas existentes nas ervanárias) e que só devem ser
consumidas moderadamente e em determinadas situações. Atenção ainda aos
"saquinhos" de chá que são cada vez mais consumidos, pois é necessário
ler sempre o rótulo. Um simples "chá" de limão pode consistir numa
mistura de chá (chá preto que contém cafeína) e aroma de limão, longe da
simples infusão feita a partir da casca de limão!
Deixo-vos aqui um endereço eletrónico onde
podem encontrar mais informações, algumas muito originais, sobre o chá.
http://casadocha.com/
Prof. Isabel Cristina
|