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Rubrica
Falar Saúde
15 de Fevereiro de 2012 |
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As febres da alma, como as do corpo, tratam-se mudando de lugar
Ramón de Campoamor y Campoosorio
Falar Saúde Nº 27
Arde, mas não é amor
Nas últimas semanas
temos sentido o aumento do número de casos de gripe típicos nesta altura
do ano. Segundo o boletim de gripe, da responsabilidade do Instituto
Nacional de Saúde e relativo à semana de 30/01 a 05/02 deste ano, a
atividade gripal tem sido moderada com tendência crescente e com uma
taxa de incidência mais elevada no grupo etário dos 15-64 anos. Foram
ainda detetados 9 vírus influenza do tipo A (H3). (Note-se que o vírus
influenza que gerou o pânico na época 2009/10 era do tipo A, mas do
subtipo H1)
Independentemente dos dados verifica-se que alunos e
colaboradores têm estado na mira do vírus e o mal-estar geral tem levado
ao seu absentismo. Um dos sintomas mais incomodativos é, sem dúvida, a
temperatura elevada e, por experiência própria, percebi que esta é “um
osso duro de roer”. Imediatamente me assolou que este seria um ótimo
tema para desenvolver aqui, até porque talvez não saibam como combater a
febre sem ser com medicamentos.
Na minha pesquisa encontrei
alguns documentos muito interessantes num dos sítios da responsabilidade
da Porto Editora, o Educare.pt, que desde já recomendo pela sua
qualidade em temáticas diversas. Desta forma selecionei as informações
que se seguem, da autoria de Hugo Cavaco, com a colaboração de Sofia
Martins, pediatra do Serviço de Pediatria do Hospital de São Marcos de
Braga. Apesar de especialmente dirigidas à febre infantil, devido à
fragilidade das crianças, as referidas indicações podem também ser
adaptadas aos mais velhos. Espero que vos sejam úteis.
Qual a
definição de febre?
A febre define-se como uma elevação da
temperatura corporal, acima dos valores considerados normais para a
criança. Contudo, há que ter em consideração que a temperatura corporal
varia de acordo com vários fatores: o ritmo circadiano (diário), sendo
mais baixa por volta das 4 horas e mais elevada por volta das 18 horas,
com uma variação máxima de 0,6 ºC, a temperatura ambiente, o vestuário,
a atividade física, alterações emocionais e também com o local onde se
faz a medição. Desse modo, podemos considerar que uma criança tem febre
se tiver uma temperatura retal superior a 38ºC, timpânica superior a
37,6 ºC e axilar superior a 37,4 ºC, tendo em atenção que não nos
devemos basear num valor único. Habitualmente é mais consensual
considerar que a criança tem febre se apresentar uma temperatura axilar
superior a 38 ºC, independentemente da idade.
Qual o seu
mecanismo?
A temperatura corporal é regulada pelo centro
termorregulador do organismo, situado no cérebro, mais precisamente no
hipotálamo anterior, que funciona como um termóstato. Na presença de
febre, o hipotálamo ajusta o ponto de termorregulação para um valor mais
elevado, levando o organismo a aumentar a temperatura corporal para
atingir esse valor. Na prática, isso dá origem aos sinais e sintomas
comuns de febre como os tremores e arrepios (contração muscular para
produção de calor) e mãos e pés frios (vasoconstrição periférica para
preservação de calor).
É sinónimo de doença grave?
Na grande
maioria dos casos, a febre é desencadeada por processos benignos,
funcionando como um mecanismo de defesa do nosso organismo, dando-nos
indicações que o nosso sistema imunitário está a reagir a uma agressão
externa (como por exemplo uma bactéria ou um vírus). Não deve por isso
ser vista como uma "doença", mas sim como uma primeira etapa no combate
a uma eventual "doença". Todos nós sabemos que a febre surge
habitualmente como resposta a agentes infeciosos (bactérias, vírus,
fungos ou outros microrganismos), mas também pode ser provocada por
agentes não infeciosos como medicamentos, vacinas, traumatismos ou
queimaduras. Regra geral dura apenas alguns dias e não tem complicações
graves. Os sinais e sintomas da febre podem ser óbvios ou subtis,
consoante a idade da criança, sendo mais difícil de avaliar nas crianças
mais pequenas. Nos lactentes (crianças com menos de 12 meses), a febre
pode manifestar-se por irritabilidade, apatia, sonolência, choro, recusa
alimentar, respiração acelerada, alterações dos hábitos de sono/vigília,
entre outros. Nas crianças mais velhas, estas podem queixar-se de
sensação de calor/frio, dores corporais, dores de cabeça, dificuldade em
dormir ou maior sonolência, diminuição do apetite, etc.
Como
medir a temperatura?
A medição da temperatura deve ser feita
utilizando um termómetro. No mercado existem termómetros de vidro, de
mercúrio, digitais e timpânicos (auriculares). Os termómetros de vidro
têm o risco de partir e a leitura pode demorar alguns minutos. Os
termómetros auriculares podem ser usados em crianças mais velhas,
contudo, apesar de a leitura ser rápida, têm que ser muito bem colocados
para que a leitura seja correta e podem dar valores alterados caso a
criança apresente cera em excesso, ou dar valores mais elevados na
presença de uma otite. Os termómetros de mercúrio não devem ser
utilizados pelo risco de exposição acidental a este tóxico. Os
termómetros mais utilizados e fidedignos são os termómetros digitais.
O que fazer em caso de febre?
Em casa, a abordagem da criança,
com febre tem três objetivos principais: reduzir a temperatura corporal
(<38,9 ºC), prevenir a desidratação e vigiar o aparecimento de sinais de
gravidade.
As crianças com febre devem ter o mínimo de roupa
vestida, pois o excesso de roupa impede o corpo de arrefecer. Os
fármacos antipiréticos têm como principal função aliviar o desconforto
provocado pela febre, devendo ser utilizados apenas nos casos em que
haja uma elevação da temperatura (> 38 ºC) e não profilaticamente. Os
fármacos mais utilizados em pediatria, pela eficácia demonstrada e pelo
reduzido número de efeitos colaterais, são o paracetamol e o ibuprofeno.
No entanto, é fundamental respeitar as doses recomendadas para o peso e
o intervalo mínimo entre cada administração, para evitar potenciais
efeitos colaterais como toxicidade hepática e renal (paracetamol), ou a
fasceíte necrotizante (infeção bacteriana grave, em crianças com
varicela que tomem ibuprofeno). O melhor é usar inicialmente só o
paracetamol se se conseguir controlar a febre apenas com este fármaco. O
ácido acetilsalicílico está contraindicado em crianças com varicela ou
gripe devido à associação com a Síndrome de Reye, uma situação grave com
atingimento do fígado e do sistema nervoso central.
O facto de a
temperatura não baixar após a administração de antipiréticos não
significa que o fármaco seja ineficaz. Nestes casos, podemos recorrer a
medidas físicas para ajudar a baixar a temperatura (não devendo ser
utilizadas isoladamente). A criança deve ser colocada num ambiente com
uma temperatura de 20-22 ºC e com o mínimo de roupa vestida. O banho de
água tépida tem maior utilidade nas crianças mais pequenas e consiste na
imersão da criança em água 2 a 5 ºC abaixo da temperatura corporal
durante 15-20 minutos. Nas crianças mais crescidas, podem utilizar-se
esponjas ou compressas. Não se deve utilizar água fria nem gelo, pois
isso impede a libertação de calor (vasoconstrição) e pode mesmo levar a
um aumento da temperatura corporal (tremores e arrepios). A fricção com
álcool está contraindicada devido à toxicidade inerente à absorção
cutânea deste tóxico.
A febre faz com que o nosso organismo perca
água através da pele e dos pulmões. Torna-se por isso fundamental
prevenir a desidratação nas crianças. Devemos por isso encorajar as
crianças a ingerir bastantes líquidos, de preferência sumos (sem
cafeína), canja de galinha ou soluções de reidratação oral. A água pode
ser dada, mas não possui eletrólitos ou glicose suficientes para repor
as perdas da criança e o chá não deve ser administrado pois estimula a
produção de urina (agravando a desidratação).
Após a diminuição
da temperatura e a hidratação adequada, os pais poderão mais facilmente
avaliar o estado da criança, identificando possíveis sinais de gravidade
que possam necessitar de assistência médica.
Prof. Isabel Cristina
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