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Rubrica
Falar Saúde
15 de Junho de 2012 |
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Jamais se desespere em meio as sombrias aflições da sua vida,
pois das nuvens mais negras cai água límpida e fecunda.
Provérbio Chinês
Falar Saúde Nº 34
Stressados?
Na próxima semana inicia-se uma época particularmente
difícil para os nossos alunos: a época de exames. Para alguns, uma
altura para provarem que o trabalho árduo e sistemático compensa. Para
outros, o derradeiro desafio para se “manterem à tona”. Seja como for,
os níveis de stress que se atingem são, em alguns casos, aterradores. O
stress…este amigo/ inimigo que impulsiona, mas que descontrolado é
inibidor do bom desempenho. A solução para combater esta situação tão
desagradável passa, principalmente, pela segurança que advém do trabalho
realizado ao longo do ano letivo, acreditem. Em regra, um aluno bem
preparado nas matérias é um aluno que controla razoavelmente bem a
ansiedade e que obtém bons resultados.
Porque este é um assunto
preocupante deixo-vos com um artigo do Diário de Noticias, de 2005,
redigido pela jornalista Elsa Costa e Silva e que, na minha opinião, é
bastante esclarecedor. Espero que vos ajude nesta fase da vossa vida.
Bom trabalho e boa sorte para os exames que irão realizar!
Prof.
Isabel Cristina
Época de exames aumenta 'stress' e procura de
ajuda psicológica
A época de exames escolares é o maior pico de
stress para os alunos. É uma altura em que aumenta a frequência de
consultas de psiquiatria, com muitos alunos a pedir a prescrição de
medicamentos para melhorar a sua concentração. Substâncias como
vitaminas e fósforo são as preferidas. Mas há quem chegue à farmácia sem
receita médica e quem comece a procurar ajuda psicológica logo em
janeiro. Na última semana, a possibilidade de adiamento dos exames foi
um fator acrescido de ansiedade. Aumentou a incerteza, “e esta é
corrosiva do investimento do indivíduo na tarefa", explica Pedro
Rosário, especialista da Universidade do Minho em psicologia da educação
e nas questões da aprendizagem. Mas os alunos mais ansiosos são os que
obtêm maior rendimento escolar.
Isabel Brandão, da consulta de
Adolescência do Serviço de Psiquiatria do Hospital de São João, no
Porto, confirma que a época de exames conduz a um "aumento da afluência"
de jovens àquele serviço e que as "queixas de ansiedade são mais
frequentes". Segundo a psiquiatra, "com a proximidade de provas tão
decisivas há muitos que receiam não serem capazes ou não ficarem
satisfeitos com os seus resultados". E acabam por pedir a prescrição de
medicamentos para "rentabilizar o tempo de estudo", como vitaminas ou
fósforo, algo a que os médicos, explica Isabel Brandão, raramente acedem
"Nesta idade, não é necessário medicar a rentabilidade da memória."
O certo é que a corrida às farmácias para melhorar a atividade da
memória aumenta nesta altura do ano. Maria da Luz Sequeira, farmacêutica
e vice-presidente da Associação Nacional de Farmácias, confirma-o e diz
que a maior parte dos jovens chega sem prescrição médica, já que estes
produtos são de venda livre. Mas, muitas vezes, a iniciativa é dos
próprios pais. "Explicam que os filhos estudam muito, estão cansados por
causa da altura dos exames e pedem qualquer coisa que ajude na
concentração e memorização", conta a farmacêutica. No entanto, o verão
já é uma altura do ano em que a população em geral acusa alguma astenia.
Os estudantes ressentem-se mais pelo esforço acrescido de um ano de
estudos.
O lado bom
De acordo com a psiquiatra Isabel
Brandão, há um maior nível de ansiedade quando o stress é muito, as
pessoas ficam menos capazes. Contudo, nem sempre este estado é mau, até
porque "ajuda a ter maior envolvimento e a mobilizar mais para o
estudo".
Pedro Rosário, da Universidade do Minho, diz que a
ansiedade é como a corda de um violino "Precisa de uma tensão ótima." Se
for de menos, não há concentração na tarefa. Mas se for de mais, "o
problema é não perder o controlo". Se há jovens que investem desde cedo
nos estudos, "outros há que têm de ser puxados pelos colarinhos pela
ansiedade". O ideal é cada aluno identificar o seu ritmo.
Mais
stressados
De acordo com Pedro Rosário, os níveis mais baixos de
ansiedade são normalmente encontrados nos alunos mais fracos, porque os
mais ansiosos são os estudantes que estão "muito orientados e muito
concentrados". Esta é também a experiência de Iolanda Ribeiro,
responsável pelo serviço da Universidade do Minho que faz atendimento a
alunos com problemas de ansiedade em contexto de avaliação.
"Quem nos procura são, normalmente, os alunos de alto rendimento e
chegam aqui precocemente, logo em janeiro e fevereiro. Não é habitual
aparecerem nas vésperas dos exames", explica Iolanda Ribeiro. Há duas
situações mais frequentes: a dos alunos muito ansiosos, que fazem tudo
para evitar os exames e acabam por fugir, e a dos estudantes, que
"sofrendo imenso de ansiedade", acabam por passar a prova. Em ambos os
casos, explica aquela psicóloga, "são alunos com muitas expectativas e
alto rendimento. Mas enquanto os primeiros acabam por não ter sucesso,
os segundos conseguem".
Iolanda Ribeiro salienta ainda haver
casos de jovens que, sendo muito orientados para o estudo, entram numa
espiral de isolamento social, passando muito tempo sozinhos "Isso não é
saudável e pode desencadear reações psicossomáticas que levam a crises
de pânico."
Os alunos aparecem na consulta ou por iniciativa
própria, levados pelos pais ou aconselhados por pessoas conhecidas.
Aprender a lidar com a ansiedade é um processo moroso, que implica o
trabalho de vários parâmetros (inclusive de técnicas de relaxamento), e,
por isso, a consulta não aceita novos adolescentes após maio.
Novo 'stress'
A eventualidade de um adiamento dos exames é um
contexto "obviamente muito perturbador", assegura Iolanda Ribeiro,
salientando, contudo, que existem diversas formas de lidar com a
situação vivida esta semana. "Muitos começam a pensar que vai correr
tudo mal, outros podem até achar que não vai ter impacto", afirma. Para
Pedro Rosário também "é evidente que a alteração de situações face ao
que está combinado é um fator de ansiedade, assim como tudo o que sejam
contingências institucionais que aumentem a imprevisibilidade".
Portanto, "qualquer fator do sistema que introduza tranquilidade, calma
e consistência, diminui a ansiedade". A incerteza é um dos piores
inimigos para quem enfrenta situações de exame, pelo que, explica o
psicólogo, "a missão do educador é tentar colocar todos os meios para
que os fatores relacionados com o sistema sejam o menos abrasivos
possível e menos potenciadores de ansiedade".
Pedro Rosário
explica que "a ansiedade move-se no campo da dúvida. Abala certezas".
Leva os alunos a perguntar-se se serão capazes, se o tempo vai ser
suficiente. E isso é preocupante, já que estes pensamentos motivados
pela ansiedade "são um fator de distração importante" na altura em que
os alunos se estão a preparar para os exames.
Mas o problema da
ansiedade é fazer "com que o aluno se concentre no que já não tem e não
no que ainda está nas suas mãos conseguir". Ou seja, leva, por exemplo,
o adolescente a preocupar-se porque já passaram quatro dias e não a
pensar que poderá ainda aproveitar mais três dias de estudo. É uma
situação que conduz "ao imobilismo para a ação e que desnorteia a
concentração".
Durante a realização do exame, os alunos podem ser
tentados a questionar se as suas respostas estão corretas. "A dúvida só
é apaziguada pelas certezas processuais, ou seja, pelo facto de os
alunos se terem preparado anteriormente vendo provas de anos anteriores,
fazendo exercícios, etc.", explica Pedro Rosário. Mas "há um nível de
incerteza que é inerente à realização da tarefa". Por isso, "é preciso
que o aluno perceba que não pode controlar tudo e que tem que aprender a
lidar com a incerteza".
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