FALAR SAÚDE Nº 40: Bicharoco sanguinário

Prof. Isabel Cristina
06/11/2012

Desde o início do mês de outubro que se tem ouvido falar do surto de dengue na Madeira. De facto, o número de indivíduos infetados aumentou de 14 para 74 casos, registados entre 6 de outubro e 1 de novembro.

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Rubrica GOVCIC 02 de Março de 20
 

 

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Falar Saúde
06 de Novembro de 2012

 

 

 

 

 


Você não pode impedir que os abutres sobrevoem a sua cabeça, mas pode impedir que eles façam um ninho nela.
Proverbio Chinês


Falar Saúde Nº 40
Bicharoco sanguinário


Desde o início do mês de outubro que se tem ouvido falar do surto de dengue na Madeira. De facto, o número de indivíduos infetados aumentou de 14 para 74 casos, registados entre 6 de outubro e 1 de novembro. Estes últimos já incluem casos diagnosticados no continente, cerca de 12, entre portugueses e estrangeiros que viajaram da Madeira.

Mas que doença é esta? Como é transmitida? Estas e outras questões serão esclarecidas a seguir pelo meu aluno Nélson Carvalho do 12ºBT2.

Prof. Isabel Cristina



O dengue é uma doença perigosa e, no caso da variante hemorrágica, pode levar à morte. É causado por um vírus, um Flavivírus, transmitido entre os humanos através da picada do mosquito do género Aedes, particularmente Aedes aegypti. O mosquito (vetor) ao picar o humano infetado adquire o vírus, que posteriormente ao picar outro humano o vai infetar.

O mosquito foi detetado na Região Autónoma da Madeira, em 2005, tendo sido implementadas medidas de controlo entomológicas incluindo a prevenção da exportação do vetor. Por isso, o caso que houve este ano (em que há suspeita de pessoas infetadas com dengue) já não é novidade para os madeirenses.

Até ao momento não foram detetados mosquitos daquele género em Portugal Continental, pelo que não há risco de emergência de casos indígenas. Todos os casos até à data diagnosticados foram importados de regiões endémicas (que é mais frequente de determinada região), como é o caso do Brasil ou da Venezuela. A verdadeira origem do Aedes aegypti parece estar associada ao continente africano. Milhões de casos de dengue ocorrem anualmente em todo o mundo. Sendo responsável por cerca de 100 milhões de casos/ano em população de risco de 2,5 a 3 biliões de seres humanos.

Existem quatro serotipos de vírus que causam o dengue e qualquer um pode causar a doença. Após a recuperação da infeção, o doente fica imune a esse tipo de vírus, mas não aos restantes três, ou seja, não existe imunidade cruzada e, consequentemente, pode ser infetado novamente e desenvolver a doença, com o senão de as reinfeções tenderem a apresentar quadros clínicos (manifestações clínicas) progressivamente mais graves.

Quais são os fatores de risco?

São considerados fatores de risco para a infeção por dengue, viver ou viajar para áreas tropicais ou subtropicais (como no caso da Madeira), especialmente nas áreas de alto risco como sudeste Asiático, América Latina e Caraíbas.

Manifestações clínicas?

Na maioria dos casos a infeção não apresenta manifestações clínicas (assintomático) ou apresenta-se com manifestações ligeiras.

O período de incubação (tempo entre a aquisição da infeção e o aparecimento das manifestações clínicas) é de 3 a 7 dias, podendo prolongar-se até 14 dias. A doença manifesta-se, geralmente, por febre, dores de cabeça, dores nos músculos e nas articulações, dor retro- orbitária, vómitos e manchas vermelhas na pele e, embora mais raramente, com manifestações hemorrágicas espontâneas. Casos graves podem evoluir para choque (colapso cardiovascular), hemorragias severas, com necessidade de medidas terapêuticas invasivas em Unidades de Cuidados Intensivos.

Como efetuar o diagnóstico?

O diagnóstico de dengue é muito difícil, os sintomas são inespecíficos, ou seja, são partilhados com muitas outras doenças também elas endémicas nesses países, como a malária, febre tifóide e até a vulgar gripe.

Existem testes laboratoriais de diagnóstico através da deteção direta de partículas virais ou indiretamente através da deteção de anticorpos contra o vírus produzidos pelo sistema imune. Mas estes testes são morosos e muitas das vezes o resultado só está disponível após a resolução da infeção.

Em Portugal, o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) é o laboratório de referência para o diagnóstico laboratorial de dengue.

Qual o tratamento disponível?

Para o dengue, como para muitas infeções víricas não existe tratamento especifico disponível, ou seja, não existe antivírico específico. São efetuadas medidas de suporte, ou seja, um tratamento sintomático como hidratação abundante de forma a evitar a desidratação induzida pela febre e vómitos, paracetamol para a febre e para as dores; deve evitar-se o uso da tradicional aspirina e anti-inflamatório não esteroides, pelo perigo de hemorragia e de síndroma de Reye. Nos casos severos, a hospitalização é obrigatória para reposição de fluídos, eletrólitos, uso de fármacos vasoativos e transfusão de derivados de sangue para repor as perdas hemorrágicas.

Como prevenir?

Se vai viajar ou mora em áreas endémicas, atualmente só há uma maneira de prevenir a aquisição da infeção, é através de evitar a picada do mosquito.

Algumas dicas para prevenir a picada:

  • Utilizar habitação com ar condicionado ou bem protegida (com redes de mosquiteiros), isto é particularmente importante à noite;

  • Reprogramar as atividades ao ar livre. Evitar estar ao ar livre no crepúsculo do amanhecer, e no início da noite, quando há mais mosquitos no ar;

  • Uso de roupas protetoras – camisa de manga comprida, calças compridas, meias e sapatos;

  • Uso de repelente de mosquitos. Pode ser aplicado na roupa, sapatos, material de acampamento e cama. Na pele usar um repelente que contenha pelo menos uma concentração de 10% de DEET;

  • Reduzir o habitat dos mosquitos. Os mosquitos que transmitem o vírus do dengue geralmente vivem dentro e ao redor de casas, principalmente em zonas com águas paradas. Evitar os pratos de vasos de plantas, pneus abandonados, baldes com água, etc.

Vacina?

Atualmente ainda não está disponível vacina, mas já se encontra em desenvolvimento.

Para saber mais…

 

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