|
|
|
Rubrica
Falar Saúde
5 de novembro de 2013 |
|
"Quero ficar no teu corpo feito tatuagem Que é pra te dar
coragem Pra seguir viagem Quando a noite vem. E também pra me
perpetuar em tua escrava Que você pega, esfrega, nega Mas não
lava.“
Chico Buarque
Falar Saúde Nº 55
Tattoo
Estima-se que cerca de 50 milhões de
pessoas têm pelo menos uma tatuagem. As tatuagens surgiram como uma nova
forma de arte, de expressão corporal e, num ápice, a sociedade cobriu-se
de gravuras e palavras repletas de significado ou então, simplesmente,
por pura estética e beleza. Não se trata de algo moderno, muito pelo
contrário, já desde os tempos Egípcios que o Homem encontrou em si uma
nova tela, onde poderia gravar suas memórias, feitos, glórias, perdas e
motivações, dando-lhes vida e imortalidade.
É um processo doloroso. Porquê?
Esta é, sem dúvida, a pergunta mais comum no
seio da comunidade. Em primeiro lugar, temos que ter noção de que uma
tatuagem é uma invasão cutânea, ao nível da pele, sendo esta última
constituída por três camadas. Então a dor resulta das picadelas que
perfuram até à segunda camada de pele, constituída por células vivas e
terminações nervosas, a derme, onde são injetados os pigmentos que dão
cor à tatuagem.
Esta dor vai depender de vários fatores tais
como, o local onde a tatuagem será feita (quanto mais perto do osso mais
dolorosa será) e a sua dimensão, a sensibilidade de cada um, a perícia e
a experiência do tatuador.
Esquecendo toda a componente estética,
monetária ou o impacto social, há que evidenciar os riscos em causa para
a nossa saúde. Podem surgir problemas como infeções, caso os
equipamentos não sejam esterilizados, reações alérgicas, granulomas, ou
seja, nódulos que se formam em redor dos pigmentos injetados na pele que
são rejeitados pelo corpo, e até mesmo cicatrizes salientes e
irregulares, caso o tatuador trabalhe a pele de forma demasiado severa
ou muito profundamente.
O que fazer para evitar estes
ricos?
Para evitar infeções, depois de ter boas
referências quanto ao estabelecimento onde vai ser tatuado,
certifiquem-se de que o tatuador tem comportamentos que visam a sua
saúde, tais como a lavagem das mãos e da área a ser tatuada e a
utilização de luvas e equipamento esterilizado (os materiais e tintas
devem ser abertos à nossa frente). Quanto às reações alérgicas, e
posterior formação de granulomas, existem testes prévios de reação do
corpo à tinta, que podem ser realizados no próprio estúdio. Já as
cicatrizes, é uma questão de cuidados a ter depois de realizada a
tatuagem. Estes cuidados devem ser esclarecidos pelo próprio tatuador e,
normalmente, é prescrita uma pomada própria para aplicar durante a
cicatrização para evitar a formação de crostas. Segundo a nossa
pesquisa, a maioria dos profissionais recomenda a toma da vacina do
tétano, se esta não estiver em dia. Os especialistas em dermatologia
também alertam para o caso do indivíduo ser diabético, pois os cuidados
devem ser ainda maiores, uma vez que o portador desta doença tem maior
dificuldade ao nível da cicatrização e maior vulnerabilidade a infeções.
As tatuagens causam cancro de pele?
Quanto a esta pergunta ainda não existem provas
científicas que nos possam dar uma resposta concreta, prevalecendo uma
controvérsia em torno do assunto. Na verdade, as tintas usadas para
tatuar têm na sua composição metais, como o cobalto e o alumínio (na
tinta azul) e o mercúrio (na tinta vermelha), que são prejudiciais.
Contudo, segundo o professor assistente clínico
de dermatologia da NYU Langone Medical Center, em Manhattan, Ariel
Ostad, isso não significa que as tatuagens sejam causadoras de cancro,
uma vez que a tinta fica confinada numas células epiteliais especificas
para a absorção de material estranho no corpo, os macrófagos. Pode,
eventualmente, com muita coincidência à mistura, a própria tatuagem
esconder um melanoma (cancro que afeta a pele). Além disso, o facto de a
pele estar tatuada, dificulta a observação de aparecimento de sinais
indicativos de cancro.
Remoção a laser. É eficaz?
O que o laser faz é destruir o pigmento de
tinta alojada nas células da pele, este é desfeito em vários pedaços,
acabando por ser absorvido pela própria pele. Trata-se de um
procedimento doloroso que, normalmente, exige o uso de anestesia. Além
disso são necessárias várias sessões até se conseguir resultados, uma
vez que, dependendo das cores, o nível de dificuldade de remoção varia.
Segundo o sítio
dermatologia.net, e passamos a citar, “muitas vezes, não é possível
remover toda a tatuagem, pois pigmentos mais profundos persistem
deixando uma sombra do que foi a tatuagem. Em outros casos, após a
remoção completa, a pele tratada fica mais clara do que a pele ao redor,
como uma mancha esbranquiçada, que pode ser transitória ou não.
Hiperpigmentação também pode acontecer, deixando a pele mais escura que
a pele não tratada.”
Deixamos aqui um apelo à ponderação antes de
fazer uma tatuagem, pois não é uma tarefa fácil, ou pelo menos não o
deveria ser, é uma ação que acarreta responsabilidades. Lembrem-se que,
tanto a tatuagem como o processo de remoção, são procedimentos
dispendiosos e com impactos na nossa saúde.
Nota adicional: Este
artigo foi desenvolvido em conjunto com a ex-aluna do curso de
Biotecnologia Mafalda Moreira, que ingressou este ano letivo, no ensino
superior, no curso de Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade
do Porto.
Prof. Isabel Cristina
|