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Rubrica
Falar Saúde
04 de abril de 2014 |
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O que arde cura, o que aperta segura.
Provérbio popular
Falar Saúde Nº 63
Primeiros Socorros: Feridas
Por solicitação de alguns leitores assíduos
desta rubrica venho, desta vez, abordar um tema que pode fazer a
diferença: “Como proceder em caso de acidentes, lesões ou doenças que
acontecem subitamente?” Assim, este será o primeiro de alguns artigos
sobre técnicas de socorro, que não exijam uma intervenção especializada,
pois a ajuda imediata depende frequentemente de familiares, colegas ou
pessoas que estão no local certo à hora certa.
Pequenos golpes e arranhadelas fazem parte do
nosso dia-a-dia, são as chamadas “feridas simples” e qualquer um pode
tratar, desde que siga regras muito simples, de modo a evitar
complicações. As feridas simples são superficiais, pouco extensas, pouco
sujas e sem corpos estranhos e que não afetam os olhos, ou outros órgãos
considerados frágeis, e orifícios naturais.
Então, o que fazer perante uma ferida
simples?
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Evitar entrar em contacto com o sangue ou
outros fluidos corporais da pessoa, lavar as mãos com água e sabão
e, se possível, usar luvas descartáveis.
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Se a hemorragia não tiver ainda
estancado sozinha, aplicar pressão direta sobre a lesão.
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Lavar a ferida, sem esfregar, com
água da torneira corrente, limpa e fria; se não houver água da
torneira disponível, usar água engarrafada ou soro fisiológico.
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Após a lavagem, secar em redor da
ferida, sem tocar na mesma; utilizar uma compressa ou um pano limpo
e nunca algodão, porque os seus fios adeririam à ferida que deve
manter-se limpa.
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Proceder à aplicação de um
antisséptico que assegure a eliminação de microrganismos que possam
provocar uma infeção.
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Cobrir a ferida com gaze e adesivo,
caso esta esteja numa zona muito exposta, e exista um evidente risco
de se sujar, ou quando a sua localização a expõe a determinados
atritos; caso contrário convém deixar a ferida ao ar livre de modo a
facilitar a sua cicatrização.
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Alertar a pessoa para os perigos do
tétano e lavar as mãos após a prestação do socorro.
Nota importante sobre os
antisséticos
Os antissépticos devem ser eficazes sem irritar
ou agredir os tecidos. Entre os mais utilizados encontra-se a povidona
iodada, mais conhecida como Betadine ou clorexidina (apesar de retardar
um pouco a cicatrização).
Desaconselha-se o uso do álcool e da água
oxigenada pois longe vai o tempo da expressão “o que arde cura…”. A
utilidade do álcool e da água oxigenada não só não é tão eficaz como se
pensa, mas pode ser prejudicial e, oficialmente, o seu uso está
desaconselhado em feridas abertas. Tanto um como outro são bons
desinfetantes sobre superfícies, pele intacta e objetos, mas não são
eficazes na eliminação de germes sobre tecidos vivos, especialmente em
feridas e mucosas.
Isto deve-se a um mecanismo químico que os
inativa, em grande medida, no contato com tecidos vivos. Daqui resulta
que desinfetam à superfície, mas muito pouco ou nada em profundidade.
Também são muito pouco específicos, isto é, não distinguem entre germes
e células dos tecidos da ferida, agredindo ambos por igual. É por isso
que fazem arder!
A água oxigenada é particularmente útil para
estancar o sangue, mas atrasa a cicatrização, enquanto o álcool é ótimo
na desinfeção das mãos, mas é muito agressivo.
Deve-se igualmente evitar a utilização de
antissépticos muito coloridos, como o mercurocromo, porque tingem a zona
de um vermelho intenso que dificulta a deteção de sinais que anunciem a
eventual infeção da ferida.
Em suma, à falta de produtos químicos
específicos, a água e o sabão são a melhor opção.
Prof. Isabel Cristina
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