Praxes académicas – Ritual de condenação ou
integraçãos
O Curso de Assessoria Jurídica e Documentação tem procurado, desde
sempre, convidar o Colégio a refletir sobre questões práticas de Direito e
de Direitos, que ilustrem a nossa preocupação enquanto escola no
compromisso com o outro. Selecionámos, para este ano, o tema “ Praxes
académicas – Ritual de condenação ou integração”, e tivemos o grato
privilégio de receber como oradora convidada a Dr.ª Dulce Nascimento,
relatora do Observatório dos Direitos Humanos.
Da Declaração Universal dos Direitos Humanos, resulta claro que todos os
seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados
de razão e consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de
fraternidade (art.º 1.º da DUDH, bem como o 12.º, 13.º e 16.º da CRP). Por
isso, ninguém pode ser submetido a tortura nem a penas ou tratamentos
cruéis, desumanos ou degradantes, tendo todos o direito a que a sua causa
seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e
imparcial que decida dos seus direitos e obrigações (art.º 10.º da DUDH,
bem como o 20.º da CRP).
Com base neste pressuposto, a Dr.ª Dulce Nascimento, cuja disponibilidade,
acessibilidade e simpatia são diretamente proporcionais ao seu vastíssimo
currículo profissional, convidou os jovens alunos a refletir sobre a
importância de dizer NÃO, sempre que os seus valores ou princípios se
achem violados, alertando para o facto de que as situações de violência
física ou psicológica, abusos, humilhações e ataques à dignidade humana,
que, em alguns casos, constituem a prática de crimes públicos, são
circunstâncias merecedoras de repúdio, pelo que devem ser condenadas de
forma clara, salvaguardando-se nomeadamente a integridade e dignidade
humana.
Ser informado e querer fazer uso das prerrogativas legais que estão à
disposição do cidadão livre de um Estado Democrático configuram a melhor
defesa contra algumas das situações relatadas, como gozo ao caloiro, que
configuram, nomeadamente, a prática de crimes puníveis pelo Código Penal
português, como sejam as ofensas à integridade física, a coação e a
violência psicológica.
Alertou ainda para o mito do alegado “consentimento do ofendido” que tem
uma relevância diminuída uma vez que a maioria dos novos alunos não têm
uma consciência livre e esclarecida dos seus direitos individuais,
desconhecendo, designadamente, o livre arbítrio que qualquer cidadão,
perante uma ordem arbitrária de outro, tem o direito de recusar.
Compôs também o painel da conferência a Ex-aluna (mas sempre aluna) do
CIC, Dr.ª Joana Pinho, ex-discente do curso de Assessoria Jurídica,
licenciada em Direito pela Universidade Católica do Porto e mestranda em
Direito das Empresas e dos Negócios, da mesma na Universidade.
Num relato pessoal, a Dr.ª Joana Pinho confidenciou ter sido praxada e
praxista sem que, em algum dos momentos, tenha colocado ou deixado que
colocassem em causa a integridade e dignidade humana. Denunciou mais um
mito ao acrescentar que o facto de ter feito uso da sua liberdade
esclarecida não a impediu de trajar, envolver-se na vida da Academia,
nomeadamente em inúmeros projetos de voluntariado, e desenvolver, da base
até à presidência, atividades na European Law Students’ Association.
Para a plateia presente, foi uma ocasião privilegiada de partilha e, para
o CIC, mais um momento de destaque na Semana Cultural ExpoCIC 2015.
O “Facebook” tem destas coisas!……..
“Hoje foi um dia muito feliz para mim por me ter sido concedido o
prazer de ser conferencista no meu antigo e mui nobre Colégio, na
conferência subordinada ao tema "Praxes académicas - ritual de integração
ou condenação?", partilhada com a ilustre Dra. Dulce Nascimento. É um
orgulho voltar à minha anterior instituição, ao local onde passei os
momentos mais felizes de toda a minha vida, e voltar a ser recebida por
todos com o maior dos carinhos e cuidados. Sinto-me de coração cheio!
Parabéns pela continuação do maravilhoso trabalho e por formarem
profissionais e seres humanos dignos.” Dr.ª Joana Pinho
Obrigada Joana, é por vocês que nos renovamos todos os dias!
Maria José Queirós
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