FALAR SAÚDE Nº 81: O bálsamo das lágrimas

Prof.ª Isabel Cristina
19/05/2015

Chorar faz bem e quem o afirma é o bioquímico William Frey, da Universidade de Minnesota. Numa das suas investigações, a equipa de Frey avaliou o sistema imunológico, os níveis de stresse e raiva e o humor dos chorões...

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Falar Saúde
19 de maio de 2015

 

 

 

 

 


Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror.
Charles Chaplin


Falar Saúde Nº 81
O bálsamo das lágrimas



Chorar faz bem e quem o afirma é o bioquímico William Frey, da Universidade de Minnesota. Numa das suas investigações, a equipa de Frey avaliou o sistema imunológico, os níveis de stresse e raiva e o humor dos chorões. E chorar melhorou o humor de quase 90% dos voluntários, fortaleceu o seu organismo e reduziu-lhes o stresse. As lágrimas podem ainda ajudar a diminuir o colesterol “mau” e a controlar a pressão arterial. “As substâncias que produzimos durante um stresse emocional podem extravasar pelas lágrimas”, explica Frey. “Stresse elevado aumenta o risco de enfarte e danifica certas áreas do cérebro. A habilidade humana de chorar tem um valor de sobrevivência”, conclui.

Mas por que razão choramos? A história evolutiva do choro sugere que este é anterior à linguagem e surgiu, provavelmente, porque só as expressões faciais não bastavam para expressar sentimentos mais abstratos e urgentes. Inicialmente expressava dor física. Mais tarde, há cerca de 50 mil anos, junto com o nascimento da fala, passou a servir também como pedido de socorro diante de situações de medo, raiva, etc. Só depois teria surgido o choro de emoção, que serve um outro propósito: expressar a nossa capacidade de ser tocado por dramas dos outros. Conclusão: chorar, na sua essência, é uma forma de comunicar.

O que sabemos, hoje em dia, é que chorar também é terapêutico. Chorar diminui o nível de manganésio, o que traz aquela sensação de alívio depois de uma boa sessão de lágrimas, e aumenta o nível leucina-encefalina, substância que produz um efeito analgésico.


Outras vantagens

As lágrimas são secreções que limpam e lubrificam os olhos e são formadas por água, sais minerais, proteínas e gordura. Nos seres humanos, o revestimento da película lacrimal do olho, conhecido como “filme lacrimal”, tem três camadas distintas:

  • a mais externa, uma camada de lípidos, formada pela secreção da Glândula de Meibómio, que tem como função cobrir a camada aquosa, criando uma barreira que impede que as lágrimas caiam descontroladamente pelo rosto, servindo também para atrasar a evaporação no olho;

  • a camada aquosa, entre as camadas externa e interna, formada por água e sais minerais e complexos imunológicos que promovem o controlo de agentes infeciosos invasores; esta camada também proporciona a oxigenação do epitélio corneal, além de criar uma superfície lisa e regular para a visão;

  • a camada interna, que fica em contacto direto com a superfície corneal, é formada por glicoproteínas segregadas pelas glândulas caliciformes, que permitem que a solução aquosa se espalhe por toda a córnea, levando a uma distribuição uniforme da película lacrimal.

Existem três tipos básicos de lágrimas:

  • Lágrima basal: em olhos saudáveis, a córnea é permanentemente mantida molhada e alimentada pelas lágrimas basais. Elas lubrificam os olhos e ajudam a mantê-los livres das poeiras;

  • Lágrimas reflexivas: estas lágrimas são o resultado da irritação do olho por partículas estranhas ao corpo, ou pela presença de substâncias irritantes, como os vapores de cebola, gás lacrimogéneo, ou spray pimenta. Este tipo de lágrimas também pode ser secretado em resposta a uma luz muito forte, repentina e brilhante, além de estímulos quentes ou apimentados na língua ou na boca, estando também relacionada com o vómito, a tosse e o bocejo. As lágrimas reflexivas podem auxiliar a remover substâncias irritantes que podem entrar no olho;

  • Lágrimas emocionais ou de choro: lacrimejar excessivo causado por uma forte tensão emocional como raiva, sofrimento, aflição, felicidade ou dor física. Geralmente, este tipo de lágrima não é secretado durante situações de combate ou de fuga, quando a adrenalina está espalhada pelo corpo, porque o sistema nervoso simpático inibe a secreção lacrimal. Nos seres humanos, as lágrimas emocionais podem ser acompanhadas por vermelhidão da face e soluços, respiração descompassada, e, por vezes, envolvendo espasmos por toda a parte superior do corpo. Lágrimas provocadas por emoções têm uma química diferente daquelas que funcionam para lubrificação ou defesa: as lágrimas de emoção incorporam uma boa dose de cloreto de potássio e manganês, neurotransmissores (endorfinas), hormonas (prolactina e adrenocorticotropina) e um analgésico natural, a leucina-encefalina, como já foi referido.

Saliento que a ausência, ou a diminuição, de produção de lágrimas é indicadora de problemas oculares que podem ter as mais diversas origens, pelo que devemos sempre consultar um médico.


Curiosidades

Em geral, as mulheres são mais emotivas e choram mais, enquanto os homens são mais durões. Elas choram cinco vezes mais do que eles.

É mais comum o enfarte do miocárdio nos homens, porque eles escondem muito o que sentem, as emoções negativas e a tensão.

Prof. Isabel Cristina

 

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