É o mesmo sol que derrete a cera e seca a argila.
Antoine de Saint-Exupéry
Falar Saúde Nº 82
Alerta UV
É uma questão de saúde, que se tornou
prática corrente e até acessório de moda, mas o uso de óculos de sol tem
muito que se lhe diga. Álvaro Sá, oftalmologista no Hospital Lusíadas
Porto, apresenta as razões pelas quais não deve sair de casa sem eles.
Os óculos de sol protegem contra a radiação
luminosa. "Num dia com luz solar muito intensa, os níveis elevados de
luz tendem a saturar a retina e, por isso a diminuir os níveis de
sensibilidade ao contraste", explica o oftalmologista Álvaro Sá. "A
função dos óculos de sol é, assim, devolver à retina o nível máximo de
sensibilidade ao contraste, eliminando o excesso de "ruído", acrescenta.
Os perigos do sol
"As queimaduras solares são causadas pela
exposição prolongada a altas doses de radiação ultravioleta. Pode haver
lesão estrutural e funcional do exterior e interior do olho pelos
efeitos térmicos e/ou fotoquímicos da absorção da luz", alerta o médico.
Desta forma, mesmo em dias mais nublados, não deve desleixar a sua
proteção, já que os raios UV estão presentes durante todo o ano,
independentemente da intensidade do sol.
Grupos mais vulneráveis à lesão
ocular pelos raios ultravioleta (UV)
Idosos
A partir dos três anos, as crianças já devem
estar protegidas, mas os mais velhos não podem descurar a sua saúde
ocular. "Com a idade há diminuição da concentração de moléculas que
protegem dos raios UV. Catarata e Degenerescência Macular relacionada
com a idade (DMI) podem estar relacionadas com a combinação da exposição
cumulativa de luz e coincidente diminuição da bioquímica protetora", diz
Álvaro Sá.
Olhos azuis
Pacientes com menos pigmentação, vulgo "olhos
azuis" são mais sensíveis à luz? O tema ainda é polémico, mas os
indivíduos com íris mais escura apresentam maior quantidade de melanina
nos tecidos, incluindo na coroide, protegendo melhor a retina da
exposição à luz solar. O especialista confirma: "estudos mostram que
pacientes cujas íris são azuis (menos pigmentadas) têm mais incidência
de DMI em comparação com pacientes com íris castanhas".
Uso de fármacos fotossensibilizantes
"Existem fármacos, como tetraciclinas ou
psoralenos, que deixam os tecidos mais vulneráveis à lesão luminosa,
depositando-se no cristalino e na retina". Nestes casos, a exposição
solar deve ser evitada.
Exemplos clínicos de lesão ocular
pela luz
Nas pálpebras
Especial atenção na época
balnear, pois, tal como explica o oftalmologista do Hospital Lusíadas
Porto: "A pele das pálpebras pode sofrer queimadura solar essencialmente
pelos raios UV-B. As nuvens não filtram a radiação UV, portanto não
previnem as queimaduras solares. Os raios UV são refletidos pela areia,
água, etc. O guarda-sol não fornece proteção total contra estes raios. O
espectro das lesões da pele causadas pelos raios UV pode variar entre as
lesões relativamente benignas (queratose epidérmica, pele seca,
hiperplasia sebácea, manchas pela idade, rugas, etc.) até lesões
malignas (carcinoma de células basais, carcinoma de células escamosas,
melanoma maligno, etc.)."
Na córnea
Situações a evitar e
sintomas aos quais se deve estar atento:
-
Solários, lâmpadas
germicidas, trabalhar com equipamentos de solda – podem provocar
queratite superficial provocada;
-
"Cegueira" da neve (a neve reflete
cerca de 85% da radiação UV incidente) é o resultado da exposição
prolongada aos raios UV – causam uma queratite superficial punctata que
tipicamente aparece 8 a 12 horas após a exposição;
-
Exposição
crónica à radiação ultravioleta – pode produzir uma degeneração
esferoidal da córnea (ex.: surge em cerca de 14% dos esquimós) e estar
associada à presença de pterígeo (membrana que cobre os olhos);
-
Exposição solar prolongada na praia (sem óculos de sol) – chega a
dificultar a adaptação ao escuro durante dois dias.
No cristalino
Associado ao aparecimento de catarata e ao início mais precoce da
presbiopia que, em média, surge cinco anos antes na população dos países
com mais sol (trópicos), talvez pela maior exposição à radiação
infravermelha.
Na retina
Parece haver associação com o
aparecimento da DMI pela toxicidade da luz azul e dos raios UV na
mácula.
Estes são argumentos mais do que suficientes para não se
esquecer nunca dos seus óculos de sol. Mesmo quando os dias estão mais
escuros ou quando o verão já acabou.
Adaptado de
https://www.lusiadas.pt/, 28/08/2014
Não queria deixar de
salientar que o investimento na compra de uns óculos de sol de qualidade
não deve ser de todo descurado, pois o uso de uns óculos de sol
contrafeitos (comprados em lojas de moda ou chinesas) é muito mais
prejudicial do que não usar de todo óculos escuros. A explicação para
este facto tem por base o mecanismo natural de defesa da pupila: esta
tende a dilatar à sombra e a contrair na presença de claridade. Uma vez
que as lentes de má qualidade são escurecidas, mas não possuem filtros
para bloquear os raios UV, a pupila dilata, pois encontra-se confortável
perante o sol, mas deixa passar mais raios UV, os quais, tal como já foi
mencionado, são nocivos para a saúde.
Que cuidados deve ter, então,
quando compra uns óculos de sol?
Dirija-se a uma ótica, pois só
assim tem a garantia que as lentes que está a adquirir têm proteção
certificada contra os raios UV. As lentes devem assim possuir filtros
para raios UVA e UVB (99 a 100%), sendo a coloração castanha a que
proporciona maior conforto à sua visão.
Nos desportos náuticos ou na
montanha, é preferível usar lentes de coloração mais escura. As armações
escolhidas devem ser grandes de modo a cobrir a maior área de pele
possível e justas ao rosto para a radiação não entrar por folgas
existentes.
Prof. Isabel Cristina
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