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Rubrica
Falar Saúde
12 de outubro de 2015 |
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Cada dia a natureza produz o suficiente para a nossa carência. Se
cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e
ninguém morreria de fome.
Mahatma Gandhi
Falar Saúde Nº 84
Vou-te devorar!
A comemoração do Dia Mundial da
Alimentação, a 16 de outubro, volta a ser o mote para lembrar aqueles
que ainda passam fome no século XXI. O crescimento demográfico, crises
económicas, guerras e desastres naturais continuam a ser os grandes
causadores deste flagelo. Na procura de soluções, a natureza revela-se
promissora, só temos de mudar algumas mentalidades.
Atualmente, consumidos por dois mil milhões de
pessoas em todo o mundo, particularmente em partes da Ásia, África e
América Latina, embora causem repulsa em muitos ocidentais, os insetos
são uma alternativa promissora à produção convencional de carne, com
vantagens para a saúde e o ambiente, defende a Organização para a
Alimentação e a Agricultura (FAO).
Recordando a estimativa de que, em 2030, o
mundo terá 9000 milhões de habitantes que precisam de ser alimentados, a
FAO defende que são urgentemente necessárias alternativas à produção
animal e de rações, sugerindo que a entomofagia, ou consumo de insetos,
pode contribuir positivamente para o ambiente, a saúde e os modos de
vida.
Esta atitude levou a um esquecimento dos
insetos na investigação agrícola e, apesar de algumas referências
histórias sobre o uso de insetos como alimento, a entomofagia só
recentemente começou a ser foco de atenção por parte dos”media”,
investigadores, "chefs" e da indústria alimentar a nível global.
Segundo a FAO, há registo do consumo de mais de
1900 espécies de insetos, os mais consumidos dos quais são escaravelhos
(31%), lagartas (18%), abelhas, vespas e formigas (14%). Gafanhotos,
cigarras, térmitas, libelinhas e moscas são outras espécies consumidas.
Agora, a organização sediada em Roma vem
defender a criação de insetos como uma solução para a insegurança
alimentar, já que são nutritivos, com altos níveis de proteínas, gordura
e minerais, além de ser baixo o risco de transmitirem doenças de origem
animal, como a gripe das aves ou a doença das vacas loucas. Podem ser
consumidos inteiros ou transformados em farinha ou pasta e incorporados
em outros alimentos.
Outras vantagens dos bichos:
-
Eficiência - convertem 2
kg de alimento em 1 kg de massa corporal. Já os bovinos necessitam
de 8 kg de alimento para produzir 1 kg;
-
Alterações climáticas -
baixa produção de gases com efeito de estufa (os porcos produzem dez
a 100 vezes mais);
-
Recursos - necessitam de
muito pouca água e dispensam grandes extensões de terreno;
-
Poluição - alimentam-se de
resíduos orgânicos, como restos de alimentos e dejetos humanos,
transformando-os em proteína de alta qualidade.
Por tudo isto, e porque «há muito trabalho
a fazer» para concretizar o potencial dos insetos como alimento, a FAO
defende que se aposte na investigação em áreas como as tecnologias para
a produção em massa, a segurança alimentar (valor nutritivo dos insetos
e possíveis alergias ou doenças), a legislação e a educação dos
consumidores sobre os benefícios da entomofagia.
Em Portugal, já começam a surgir iniciativas no
âmbito da gastronomia de insetos. O “Insect Gourmet” é um movimento que
promove a degustação destes ingredientes e visa a abertura de um
restaurante especializado na área. Na Europa, o produto está, muitas
vezes, inacessível e o seu preço ainda é elevado, devido à produção em
pequena escala.
Prof. Isabel Cristina
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