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Rubrica
Falar Saúde
02 de maio de 2016 |
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Sem a música, a vida seria um erro.
Friedrich Nietzsche
Falar Saúde Nº 91
Musicoterapia
Na sequência das terapias alternativas,
resolvi recorrer à “prata da casa” para vos falar de mais uma forma de
atingir o completo bem-estar, como complemento da medicina tradicional.
Para aqueles que não sabem, o Dr. Norberto Faria, professor de Filosofia
no nosso Colégio, é também um musicoterapeuta. E porque esta não é uma
terapia muito conhecida entre nós, achei por bem colocar-lhe algumas
perguntas que nos ajudassem a entender esta prática que, apesar de não
ser recente, desperta a nossa curiosidade, bem como algumas dúvidas.
Desde já, fica aqui o meu agradecimento ao professor Norberto pela sua
disponibilidade.
O que é a musicoterapia?
A musicoterapia é a utilização da música para
facilitar e promover o bem-estar individual, a autoestima, as relações
interpessoais, na tentativa de ultrapassar dificuldades físicas,
emocionais, cognitivas e sociais, contribuindo para a melhoria da
qualidade de vida. Já se sabia que a música provoca emoções como calma
ou tranquilidade, mas que, por vezes, também nos irrita ou entristece.
Tem esta capacidade de despertar as nossas memórias e de nos fazer
reviver uma e outra vez os momentos mais marcantes da nossa vida. Hoje,
através dos recursos da neuroimagem funcional, é possível ver como
várias zonas do córtex cerebral são ativadas, descriminando timbre,
melodia e ritmo, por exemplo.
Como surgiu?
Já nas sociedades primitivas, os feiticeiros,
xamanes ou curandeiros, executavam rituais mágicos, utilizando sons
musicais, através dos quais pretendiam expulsar os espíritos malignos
que traziam a doença. As grandes civilizações da Antiguidade mantiveram
esta crença no poder da música. Por exemplo, papiros egípcios, escritos
1500 anos antes de Cristo, relacionavam a música com a fertilidade. Na
Grécia antiga, Pitágoras afirmava que a música e a dieta mantêm a saúde
da alma e do corpo, respetivamente. Também Hipócrates ou Platão
acreditavam na função catártica da música como busca da harmonia. Mas é
no século XX, depois da Segunda Guerra Mundial, que surge o primeiro
esboço daquilo que viria a ser uma nova e reconhecida psicoterapia. Os
hospitais contratavam músicos para que estes ajudassem no tratamento
físico e mental das vítimas daquele conflito. A primeira associação de
musicoterapia surgiu em 1950 nos Estados Unidos. A Associação Portuguesa
de Musicoterapia (APMT) foi fundada em 1996, por Fernanda Magno Prim.
A quem se destina?
A musicoterapia destina-se a todas as faixas
etárias, desde o período da gravidez até à velhice. Pode ser aplicada a
indivíduos ou grupos, conforme o objetivo que se pretende atingir. Os
musicoterapeutas trabalham individualmente com pessoas com perturbações
do espetro do autismo, transtorno do défice de atenção ou
hiperatividade, doentes com paralisia cerebral ou doença mental, pessoas
com dificuldades emocionais, Alzheimer, entre outros. Mas também podem
dar apoio em grupo a grávidas, a crianças com dificuldades motoras ou a
jovens com problemas de aprendizagem e integração na escola, por
exemplo.
Quais são os benefícios e
contraindicações?
Tem benefícios fisiológicos, psicológicos e
socioculturais. Por exemplo, as técnicas de movimento rítmico utilizadas
nas sessões desenvolvem a coordenação motora, a agilidade, o controle da
força, ajudam a coordenar a respiração e a controlar o stresse. Mas,
simultaneamente, tocar em conjunto favorece o relacionamento e ajuda
pessoas com problemas comportamentais e impulsos agressivos. Os
benefícios são múltiplos. Genericamente, podemos dizer que facilita a
atenção, a concentração, a memória, motiva e desenvolve a autoestima e
promove a cooperação, comunicação e partilha.
Não existem contraindicações, mas é óbvio que
há técnicas que não podem ser utilizadas em doentes com Alzheimer, em
fases terminais ou que se encontrem em depressão profunda. Tudo tem de
ser adequado a cada caso e à Identidade Sonora Musical (ISO) de cada
indivíduo ou grupo.
Quem pode exercer?
Qualquer pessoa com formação em Musicoterapia e
com conhecimentos e prática musical. Convém dizer, no entanto, que o
musicoterapeuta deve, sempre que possível, desenvolver o seu trabalho em
grupos multidisciplinares, em conjunto com psicólogos, médicos,
fisioterapeutas e educadores.
É considerada uma terapia
alternativa?
A musicoterapia faz parte de um conjunto de
novas práticas terapêuticas com resultados muito relevantes, como a
arteterapia ou a dramoterapia. Mas a terapia através da música
destaca-se pela implantação e resultados. É mundialmente reconhecido,
por exemplo, o Método Benezon, criado pelo argentino Rolando Benezon,
que ainda há pouco esteve em Portugal. Para ele, o fundamento principal
da musicoterapia é a afirmação de que cada ser humano possui uma
“identidade sonora”, constituinte da memória não-verbal. A partir do
momento da conceção, o ser humano é rodeado por um conjunto infinito de
energias sonoras como vibrações, movimentos, sons e músicas que, ligados
às emoções, sensações, experiências de vida e vivências relacionais,
constroem a sua identidade.
Onde se pode aplicar?
Em infantários, escolas, hospitais,
estabelecimentos prisionais, etc., onde e quando existirem indivíduos em
sofrimento psicológico ou físico, inadaptados ou marginalizados. Mas
convém que as pessoas não façam confusão, como muitas vezes acontece:
Musicoterapia não é Educação Musical ou Animação Musical. Pode existir
educação e animação, mas o objetivo não é esse. É trazer mais felicidade
e bem-estar.
Prof. Isabel Cristina
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