FALAR SAÚDE Nº 107: Hora de verão

Prof.ª Isabel Cristina
27/03/2017

É verdade… Para mal dos nossos pecados, a hora mudou na madrugada de domingo (26 de março), ou seja, adiantou-se no tempo, “roubando”-nos o justificado descanso.

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Rubrica GOVCIC 02 de Março de 20
 

 

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Falar Saúde
27 de março de 2017

 

 

 

 

 


Adote o ritmo da natureza. O segredo dela é a paciência.
Ralph Waldo Emerson


Falar Saúde Nº 107
Hora de verão

É verdade… Para mal dos nossos pecados, a hora mudou na madrugada de domingo (26 de março), ou seja, adiantou-se no tempo, “roubando”-nos o justificado descanso.

Ultrapassada a revolta, vamos ao que interessa. Será que esta mudança só nos afeta o humor “per se”? Não. De facto, a mudança da hora é prejudicial à nossa saúde em todas as suas dimensões! Quem diria que as mudanças horárias, pensadas por Benjamin Franklin para poupar velas, em 1784, e que seria implementada em 1916 para poupar recursos durante a Primeira Guerra Mundial, traria tantos prejuízos à nossa saúde? Independentemente de concordarmos, ou não, com esta medida, é importante tomar consciência das consequências e tomar as devidas precauções para que estas não nos prejudiquem tanto assim.

Segundo o Dr. Miguel Meira e Cruz, presidente da Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono, “o problema é a resposta do nosso organismo a esta mudança. No nosso relógio interno, temos um conjunto de células que dispara a certas horas para ‘mandar os órgãos funcionar’. Quando a hora muda, esse relógio interno fica desregulado. Esta mudança abrupta não traz benefícios.”

Miguel Meira e Cruz diz que o impacto da mudança de horário é maior para o organismo na hora de verão, uma vez que o horário de inverno é o que mais se identifica com o nosso relógio interno. O especialista explica que, em qualquer das mudanças, verão ou inverno, o nosso cérebro ressente-se e isso pode trazer prejuízos “significativos e potencialmente graves”.

“Por exemplo, o nosso estado de alerta é melhor de manhã e a nossa maior tendência para o sono é à noite: isto está regulado pelo nosso relógio interno. Esta mudança da hora pressupõe a tal mudança do relógio interno e isso requer uma adaptação, que é lenta e, ainda para mais, no verão, a hora volta outra vez a mudar. Efetivamente, um estudo finlandês mostra que existe relação entre a mudança da hora e problemas graves de saúde. O estudo mostra que, nos três dias depois da mudança, na hora de verão, há um aumento dos casos de enfarte do miocárdio. No inverno, por exemplo, há outro estudo que mostra que há um aumento da taxa de acidentes de viação.”

O especialista acrescenta: “No nosso organismo, temos uma hormona que varia, durante 24 horas, os chamados ritmos circadiários. A ação das hormonas tem uma hora estabelecida. Se a hora muda, estas hormonas ficam desreguladas”.

O especialista diz ainda que uma hora a mais de sono pode ser benéfico para quem necessita de dormir mais, sendo que o impacto desta hora de sono é maior em quem se deita mais tarde e que se levanta também mais tarde. Neste contexto, “é importante”, no que respeita ao sono, que as pessoas se deitem “um pouco mais cedo nos dias que antecedem o adiantar dos ponteiros” uma hora, salienta o especialista em medicina do sono.

Por outro lado, adverte, “adiantar os ponteiros significa para algumas pessoas, com cronotipo matutino, deitar-se ainda com sol, o que pode dificultar o adormecer e afetar a continuidade do sono”. “É importante que, nestas circunstâncias, o quarto seja mantido escuro e com temperaturas adequadas (nem muito frio, nem muito calor) para que o sono se processe da melhor forma”, aconselha.

Os que praticam exercício físico em horas tardias também devem tentar antecipar o horário do exercício, bem como a sua intensidade.

Segundo o investigador do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa, “não existe prova convincente” de que ganhar “uma hora extra de sol” represente “poupanças efetivas”. “Existe, sim, sem sombra de dúvida, um prejuízo tremendo, que pode ser maior ou menor dependendo do cronotipo e da robustez do relógio de cada um”, salienta.

Miguel Meira e Cruz refere ainda que existem várias razões para se considerar totalmente inoportuna a mudança que ocorre duas vezes por ano. Apesar de ser sobre o sono que estas alterações horárias parecem ter mais efeitos, cada um dos órgãos sofre “um desajuste que demora bem mais tempo a recuperar do que o desacerto do ciclo vigília-sono”.

“Sabemos, por exemplo, que existe uma interação dinâmica entre o relógio circadiano interno e a divisão celular e que esta interação influencia, por exemplo, o desenvolvimento de certas doenças, nomeadamente tumorais. É efetivamente real o risco e o efeito pode não ser visível a curto prazo, mas existe”, salienta.

Também vários trabalhos epidemiológicos têm sugerido repetidamente que a mudança horária aumenta o risco cardiovascular, de acidentes e a ocorrência de maior instabilidade emocional, sobretudo em pessoas vulneráveis.


Prof. Isabel Cristina

 

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