“O viajante está ao largo da Sé, olhando a cidade. É amanhã cedo. Veio aqui para escolher caminho, decidir um itinerário. A Sé ainda está fechada, o paço episcopal parece ausente. Do rio vem uma aragem fria. O viajante deitou contas ao tempo e aos passos, traçou mentalmente um arco de círculo, cujo centro é este terreiro, e achou que quanto queria ver do Porto estava delimitado por ele” (José Saramago, “Viagem a Portugal”)
A celebração do centenário de nascimento de José Saramago, no CIC, arrancou no dia 16 de novembro e prolonga-se até ao dia 10 de dezembro, coincidindo com o Dia Internacional dos Direitos Humanos.
Para celebrar o Nobel Português, todos os pretextos afiguram-se pertinentes, porque, afinal, a vontade de contar de outra forma representa a sua personalidade.
Assim, os alunos do 12.º ano do Curso de Património e Turismo, em colaboração com a Biblioteca Escolar, promoveram uma atividade para os Docentes, intitulada de Experiência Sensorial, baseada no livro saramaguiano “Viagem a Portugal”.
A propósito deste livro, José Saramago referiu que “Não é um guia turístico; quer dizer, não é um livro prático. Eu contribuo com a minha sensibilidade de escritor. Fala-se de Portugal, mas, naturalmente, por trás desse olhar há uma pessoa que narra”. O autor percorreu o país entre outubro de 1979 e julho 1980 e, após esta deambulação, deixou-nos um misto de crónica, narrativa e recordações, a mensagem de que “o fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite… É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos” (José Saramago).
Para despertar o interesse em folhear as páginas deste livro, os alunos, orientados pela professora Sónia Teixeira, escolheram a etapa da viagem “Junta com rio que chamam Doiro…” envolveram-na com a música “Ó gente da minha terra” (Mariza) numa versão em acordeão pelo aluno Pedro Geirinhas e acrescentaram a leitura de algumas passagens da obra.
Posteriormente, as alunas Francisca Couto e Adriana Catarina, que realizam a Formação em Contexto de Trabalho (FCT) na Real Companhia Velha, falaram sobre a história do Vinho do Porto, que deram a degustar aos presentes.
Em simultâneo, a experiência sensorial levava os presentes à cozinha tradicional portuguesa pela mão do Chefe Manuel Vieira (do restaurante Comer com Tradição), que explicava e preparava a receita de leite creme a cuja prova se juntaram outras iguarias como o bolo de São João, bolo da Teixeira, os papos de anjo, as fatias de Resende…
À audição, paladar e olfato juntar-se-ia a visão de algumas gravuras, inspiradas no livro “O Conto da Ilha Desconhecida”, expostas pelos alunos do 11.º ano do Curso de Artes e Indústrias Gráficas, orientados pelo professor Nuno Cordeiro, no âmbito da disciplina de Práticas Oficinais.
"Só se pararmos para pensar nas pequenas coisas, chegaremos a entender as grandes" (José Saramago) por isso aqui fica mais um exemplo de interdisciplinaridade e criatividade que é possível (e desejável) numa escola como a nossa.
E porque “o fim de uma viagem é apenas o começo de outra”, aguardem ainda mais uma iniciativa para celebrar Saramago no CIC!
Prof.ª Paula Oliveira e Prof.ª Sónia Teixeira