Recuando ao passado, no século XVII, uma ampla região do que é hoje território ucraniano tornou-se parte do Império Russo. Com o colapso do Império Russo na Revolução de 1917 e a ascensão da União Soviética em 1922, foram criadas as Repúblicas Soviéticas da Rússia, Ucrânia, Bielorrússia e Transcaucásicas. Posteriormente, a desfragmentação da União Soviética em diversos países (entre eles Rússia e Ucrânia), evento derivado do término da Guerra Fria e da queda do Muro de Berlim, veio a alterar a geopolítica da Europa que, nos últimos 30 anos, foi marcante para relação de instabilidade regional entre Rússia e Ucrânia. Irmãos, mas muito diferentes entre si, seguem caminhos distintos.
A Rússia emergiu como uma grande potência militar e, apesar das dificuldades económicas, herdou grande parte da influência da União Soviética. A Ucrânia surgiu como um dos países mais ricos em recursos naturais da Europa (apesar de continuar marcado pela grande pobreza entre a sua população) e optou por uma postura ativa na aproximação com o Ocidente. Após o fim da União Soviética, a Rússia adotou a postura de influenciador diplomático entre as antigas repúblicas soviéticas e, em dezembro de 1991, liderou a assinatura de um acordo entre Ucrânia, Rússia e Bielorrússia (Pacto de Belaveja, que marcou a criação da Comunidade de Estados Independentes) que selava, efetivamente, o fim da União Soviética, o que significava que cada estado se tornava independente. Pela primeira vez, desde a Idade Média, os ucranianos puderam constituir o seu próprio estado soberano a partir de um referendo, em que 90% dos ucranianos votou pela sua independência. Moscovo, porém, sobretudo na era de Putin, pretendia manter a sua influência na região através da recém-criada Comunidade dos Estados Independentes (CEI).
No Memorando de Budapeste (1994), a Ucrânia entregou à Rússia todo o arsenal nuclear que estava espalhado no seu território, confiando na garantia de que as suas fronteiras seriam respeitadas. Posteriormente, em 1997, a Rússia e a Ucrânia assinaram o Tratado de Amizade, Cooperação e Parceria, conhecido como o "Grande Tratado", através do qual Moscovo reconhecia as fronteiras oficiais da Ucrânia, incluindo a Península da Crimeia, região que abriga uma maioria étnica russa.
Todavia, a primeira grande crise diplomática entre os dois lados surgiu com a chegada de Vladimir Putin ao poder. Em 2003, a Rússia começou a construir uma barragem no estreito de Kerch, próximo à ilha ucraniana de Tulza entre o território russo e a Península da Crimeia. O governo de Kiev considerou a construção como uma tentativa russa para redesenhar as fronteiras nacionais, porém, após um encontro entre os dois presidentes, a construção foi suspensa. Era o prenúncio da tensão na relação de amizade entre os dois países. O relacionamento viria a agravar-se pela aproximação da Ucrânia à OTAN/NATO e ao Ocidente Europeu, durante o mandato de Viktor Yushchenko (2005-2010), promovida através de um acordo de associação com a União Europeia. Contudo, no verão de 2013, poucos meses antes da assinatura do documento, Moscovo passou a exercer forte pressão económica sobre Kiev e forçou o governo do Presidente pró-russo Viktor Yanukovych (2010-2014) a suspender o acordo. O governo russo impôs, ainda, um embargo sobre os produtos ucranianos exportados para o país, atitude que intensificou os protestos populares (conhecidos por “Euromaidan” ou Primavera Ucraniana) em toda a Ucrânia. Ao fim de 93 dias, o Presidente é deposto sob acusações de corrupção e tentativa para mudar a Constituição. Em sentido contrário, na Crimeia, região com forte presença étnica e linguística russa, situada ao sul da Ucrânia (onde as minorias russas começaram a adquirir, sem que Kiev interferisse, uma maior autonomia política), grupos separatistas armados, chamados de homens verdes, assumiram o controle da península e solicitaram a sua anexação por parte da Rússia. Aproveitando a oportunidade e violando os acordos assinados nos anos 1990, a Rússia enviou tropas para assegurar o controle da região, assumindo-a como território seu. Também na região do Donbass, no leste da Ucrânia, grupos separatistas armados e financiados pela Rússia mantêm o controlo territorial das repúblicas de Donetsk e Lugansk. Já no final de 2021, uma enorme quantidade de tropas e equipamentos russos são deslocados para a fronteira Rússia-Ucrânia porque o presidente russo receava a adesão do país vizinho à OTAN.
Novamente como retaliação à intensificação das negociações entre a Ucrânia e a OTAN (Putin que vê o território ucraniano como parte central da zona de influência russa), o atual Presidente russo reconheceu oficialmente, no dia 21 de fevereiro de 2022, a independência dessas regiões e, no dia 23 de fevereiro de 2022, iniciou a invasão da Ucrânia sob o pretexto de “desnazificar” e “desmilitarizar” o país.
Percebe-se, contudo, que o principal motivo da invasão, pela Rússia, da Ucrânia, país livre, independente e soberano, é, apenas, a defesa da manutenção do território ucraniano com uma zona de influência russa. Só que o “apenas” traduz-se em grandes perdas humanas ucranianas e russas. A destruição das infraestruturas ucranianas é visível (considerando-se que duas décadas não serão suficientes para a sua reposição) e o conflito gerou milhões de refugiados, principalmente para países da Europa do Leste. Igualmente graves são as consequências económicas, com um aumento desregulado dos preços de alimentos, fertilizantes e combustíveis em todo o mundo. O embate atinge duramente a economia da Ucrânia, importante centro de produção e comercialização de bens primários, devido à paralisação das suas zonas de produção e exportação de bens diversos, mas também a economia da Rússia, uma das maiores do globo, por meio das diversas sanções internacionais de que está a ser alvo.
Ao mesmo tempo, a Rússia ameaça o mundo inteiro, demonstrando-se disposta a tudo, inclusive ao uso do armamento nuclear, para fazer face a qualquer interferência externa de apoio à Ucrânia. Age de forma deliberada, em desrespeito pelos acordos internacionais, para manter a Ucrânia na sua zona de influência, e esta atitude tem potencial para gerar desdobramentos perigosos, especialmente por meio da participação ativa de outros países, circunstância que pode provocar uma guerra de grandes proporções, inclusive com recurso a equipamentos bélicos nucleares.
12.º AJD (via científica)
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) é uma aliança militar internacional fundada durante a Guerra Fria, a 4 de abril de 1949, com o objetivo de estabelecer um pacto militar entre os seus membros contra o avanço da influência da URSS concretizada no Pacto de Varsóvia.
O Tratado acorda que qualquer ataque armado contra um dos países pertencentes seria considerado uma agressão a todos os demais, que imediatamente deveriam enviar reforços militares para combater a invasão (Artigo 5.º).
A dissolução oficial da União Soviética em 1991, e a consequente dissolução do Pacto de Varsóvia, teve como consequência o enfraquecimento da potência socialista, por seu lado a Organização do Tratado do Atlântico Norte alarga a sua influência a outros países (antigos membros da URSS), circunstância sentida por Vladimir Putin como uma ameaça a nível territorial à Rússia, pretendendo que a OTAN imponha um limite na sua política de portas abertas