“Não há bela sem senão”.
(Provérbio popular)
A rede social conhecida como “TikTok” tem crescido de uma forma exponencial, desde a pandemia Covid-19, e é a marca mais valiosa do mundo em 2023, neste segmento, segundo o “ranking” da consultoria “Brand Finance”, destronando o “Facebook”.
O seu sucesso faz-se sentir, especialmente, entre a chamada “geração Z”, aqueles que nasceram entre 1995 e 2010, e 66% do seu público tem menos de 30 anos. Além disso, apesar de a rede não permitir utilizadores com menos de 13 anos, é comum encontrar crianças que contornam a situação, com contas falsas ou de familiares mais velhos.
Vídeos curtos, personalizados, com edições aceleradas e músicas que ficam na cabeça, são uma fórmula que cativa e envolve, mas, como “não há bela sem senão”, apesar de atraente e divertido, o “TikTok” pode afetar a nossa saúde mental, quando usado indevidamente.
Com o objetivo de perceber por que motivo crianças e jovens, maioritariamente, passam demasiadas horas a percorrer estes clipes, foi realizado um estudo, em 2021, por cientistas da Universidade Zhejiang, na China, que permitiu perceber quais as áreas do cérebro, ligadas ao sistema de recompensa, são ativadas, produzindo de forma rápida uma sensação de prazer e satisfação no organismo. O estudo, publicado na revista científica “NeuroImage”, envolveu exames de ressonância magnética ao cérebro dos participantes, enquanto assistiam a dois tipos de vídeos: os personalizados pelo algoritmo do “TikTok” e os genéricos, como os exibidos a novos utilizadores, ou seja, os que ainda não tenham as suas preferências registadas pela plataforma. Os resultados mostraram que os conteúdos personalizados ativavam algumas áreas do cérebro, entre as quais a área ventral tegumental que é considerada um dos principais centros dopaminérgicos deste órgão, ou seja, uma região que liberta dopamina, um neurotransmissor que, ao chegar à área do córtex pré-frontal, provoca a sensação de prazer. Por outras palavras, enquanto assistimos a um vídeo no “TikTok”, o nosso cérebro recebe uma “injeção” de dopamina que nos deixa felizes e satisfeitos, como que se iniciasse um circuito de recompensas.
Mas, então, qual é o problema?! O problema é que, quanto mais dopamina o cérebro recebe, mais ele quer, e instala-se um círculo vicioso em que as “doses” necessitam de ser cada vez maiores, o que leva os indivíduos a manterem a atenção na experiência acelerada, em vez de mudar o foco para outras tarefas que sejam mais complexas ou que não promovam a sensação de prazer de forma tão rápida. Esta situação é mais grave no seio do público infantil, cujo cérebro não está, ainda, totalmente desenvolvido. O processo de formação cerebral só termina por volta dos 25 anos de idade, e as partes do cérebro responsáveis pelo controlo de impulsos, pela autorregulação, são das últimas a passarem pelo processo de maturação.
Além disso, “a forma como a aplicação atua estabelece no cérebro dos jovens uma ideia de que a vida é simples e acelerada (como nos vídeos), o que pode atrapalhar no seu desenvolvimento, especialmente daqueles que já têm uma tendência a serem mais introvertidos. Para alguém que já tenha uma dificuldade social, timidez excessiva, baixa autoestima, realçadas pelo período em que os jovens tiveram de ficar em casa por causa da pandemia, é muito mais fácil ficar horas no “TikTok”, em substituição do relacionamento social, que, a longo prazo, seria mais interessante, mas que, a curto prazo, dá mais trabalho”, afirma Ilana Pinsky, psicóloga clínica e consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em suma, a preocupação dos especialistas é que, a longo prazo, a exposição a estes vídeos possa dificultar o foco noutras tarefas, uma vez que, se a criança está condicionada a receber uma dose de dopamina todas as vezes que presta atenção em alguma coisa, quando tal não acontece, a tendência é desviar a atenção e considerar cada vez mais difícil a adaptação a uma atividade não digital, na qual as coisas não acontecem de uma maneira tão instantânea.
Manter limites saudáveis como restringir o tempo de utilização, ter em atenção os conteúdos que consumimos e, acima de tudo, estar cientes de como a aplicação nos pode afetar é o segredo para apreciar e disfrutar do “TikTok”, sem o receio de se tornar perigoso para a nossa saúde.
Prof.ª Isabel Cristina