Este escritor recorre a uma escrita, cujo vocabulário tem um caráter meramente simples, mas, simultaneamente, diversificado e enriquecedor. Esta característica proporciona uma experiência bastante aprazível e sem qualquer dificuldade na leitura, cujo ritmo é constante e corrido. Considero, então, que esta obra não necessita de um vocabulário mais elaborado para a sua perfeita singularidade.
Apreciei bastante o caráter hilariante, irónico e cómico da obra, característica comum a todos os contos. Para causar estes efeitos, o autor seleciona com detalhe e precisão o vocabulário usado como se esperasse ansiosamente a oportunidade para provocar o riso ao leitor, criticando (por exemplo, a vilania ou o julgamento sem motivo) e, assim, corrigindo-os.
Neste sentido, posso dizer que a escrita de Mário de Carvalho é encantadora, não só pela sua simplicidade, mas também por um dos seus traços de personalidade que se reflete na forma como escreve, o humor (que envolve o leitor na sua cultura e dinamismo linguístico). Outro ponto interessante é a forma como o autor nos surpreende ao longo da leitura, visto que, em cada conto, existem sempre acontecimentos aleatórios e/ou inesperados, enquanto nos está a ser narrada uma história concreta e estruturada.
Terei certamente de destacar alguns dos contos que integram esta obra. Gostei particularmente de “Carolina, Fernando e Eu”. Este pequeno conto narra a história de amor entre Carolina e o ex-namorado e a forma como ela fica perante a sua ausência. Simultaneamente, é também descrita a paixão do autor por Carolina, o que explica os seus ciúmes por Fernando. Este conto retrata a realidade sem grandes enredos definindo concretamente os princípios do amor e as emoções consequentes despertadas. Devo acrescentar que este é o único conto que se encontra num panorama real, não sendo fruto das imaginações e ilusões do autor.
Pelo contrário, o conto “Deus” direciona-nos para a capacidade de sonhar e imaginar (saindo do campo da realidade). Estamos perante uma história inacreditável e pouco provável, na qual somos obrigados a pensar se uma simples amêijoa é verdadeiramente Deus. Reforçando aquilo que já disse, trata-se de uma história inverosímil e imponderável que nos leva a um questionamento irracional acerca de acontecimentos completamente inesperados.
Embora a leitura desta obra seja envolvente, há alguns aspetos menos agradáveis como a falta de detalhe, previsível pelo género literário, já que a obra se divide em breves contos que têm a objetividade como principal característica. De facto, ter-me-ia agradado a presença de um enredo mais desenvolvido que fosse ao encontro de uma apresentação inicial das personagens (contextualização, explicação ou descrição), não passando de simples desconhecidos para quem está a ler.
Concluo que a minha experiência de leitura foi bastante agradável e recomendo vivamente à leitura da obra, visto que são denunciados, através do cómico, os comportamentos da sociedade que têm de ser mudados e corrigidos, à opinião de Mário de Carvalho. Através dos factos enumerados, considero, então, que a leitura desta obra consiste numa consciencialização acerca dos nossos atos e ações, no sentido em que possamos refletir e evoluir na nossa relação com os outros e connosco (principalmente), mas também de modo que conheçamos melhor o mundo em que vivemos. Não me arrependo de forma alguma de ter escolhido a escrita de Mário de Carvalho para o meu Projeto Individual de Leitura, visto que contribuiu para o meu conhecimento literário, mas, essencialmente, para a minha formação enquanto pessoa e cidadã.
Título: “Contos Vagabundos”
Autor: Mário de Carvalho
Editora: Editorial Caminho
Modo/género literário: Narrativo/Contos
Sugestão de leitura da aluna Carmen de Sousa Almeida, do 10.º H2