UM LIVRO POR SEMANA: A Peste

Sugestão de leitura de Rogério Ferreira, do 11.° BT2
06/05/2024

Na cidade pacata de Orão, uma prefeitura francesa localizada na costa argelina, o médico Bernard Rieux sai do seu consultório e tropeça num rato morto. Sem que este dê por isso, rapidamente emerge sob a cidade uma forte epidemia fruto da ação de um bacilo bacteriano. Os habitantes desta cidade, antes obcecados pelo dinheiro e pelo poder, pessoas que nem sequer reparavam, em sentido metafórico, que estavam vivas, viram tudo o que amavam na sua rotina destruído e desconcertado.

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Este é o cenário do livro “A Peste”, de Albert Camus, uma obra que nos leva a refletir sobre a vida que vivemos. A ideia de Camus não era mostrar-nos como seria viver numa situação epidémica como aquela que vivemos durante o coronavírus, mas abrir os nossos olhos para a peste que reside connosco: a qualquer momento podemos ver a nossa vida "perfeita" virada do avesso, seja com um acidente, com a morte súbita de alguém que nos é querido, ou com as ações de outros seres humanos. No entanto, há uma ideia que se assemelha com o que vivemos recentemente: um período de epidemia/pandemia traduz-se na generalização do mal que assombra a nossa vida - a morte - e é aí que partilhamos um sentimento coletivo de insegurança e tristeza. Caso contrário, o nosso sofrimento não passaria de nosso e, muito dificilmente, os outros o entenderiam, considerando-o muitas vezes como algo "passageiro" e "natural", mas que, na realidade, nos marca bastante.


Num dos diálogos entre o doutor Rieux e um conhecido seu, expressa-se um ponto fundamental deste livro:


[Doutor Rieux]:
"(...) Mas, entretanto, devo dizer-lhe uma coisa: não se trata de heroísmo em tudo isso. Trata-se de decência. É uma ideia que talvez faça rir, mas a única maneira de lutar contra a peste é a decência."
"O que é a decência? - perguntou [o conhecido] (...)."
"Não sei o que ela é em geral. Mas, no meu caso, sei que ela consiste em fazer o meu trabalho."


O doutor Rieux, durante o tempo de pestilência, fez tudo o que estava ao seu alcance para aliviar o sofrimento das pessoas. Este seu papel, até no ponto de vista pessoal dele, não se tratou de um ato de heroísmo, mas de decência. Isto também se evidencia como uma lição moral no nosso dia a dia: cabe-nos fazer a coisa mais normal possível quando vemos ou sabemos de alguém que está a sofrer - devemos ajudá-la. É triste que os únicos animais racionais, que se julgam superiores aos outros seres vivos, também sejam os causadores da peste nos outros: pelas nossas palavras e pelas nossas ações.


Em suma, devemos ser como o doutor Rieux, deixarmos os julgamentos de lado e ajudarmos os outros quando eles precisam. As pestes vieram para durar e só serão combatidas com decência.

 

Autor: Albert Camus
Título: “A Peste”
Editora: Livros do Brasil
Modo/Género literário: Narrativo/Romance

 

Sugestão de leitura do aluno Rogério Ferreira, do 11.° BT2

 

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