Raul era incompreendido pela maioria das pessoas que o conheciam. Expressava as suas ideias "loucas" a respeito do mundo, ideias estas muitas vezes consideradas "sinistras". Mário de Sá-Carneiro, o seu melhor amigo, gentil e aventureiro, mostrava-se, também, incomodado com o que Raul dizia, todavia optava por não se manifestar para não ferir a suscetibilidade do seu amigo ("(...) suportava-as; ouvia-as e não as discutia." – pág. 17). Apesar desta antítese de personalidades e opiniões, ambos apresentavam uma forte cumplicidade.
Em poucas páginas, o autor explora três temas universais, nomeadamente a morte, o tempo e o amor, que guiavam as suas discussões com Raul, que afirmava querer que todos os seres vivos morressem, para poder experimentar ficar só ("- Gostava que morresse toda a gente… todos os animais e que só eu ficasse vivo…" – pág. 16), salientando, esta fala, as suas ideias descabidas.
De seguida, já sobre o tempo, o autor admite ter usado a escrita, na sua juventude, como um entretenimento e uma forma de "fugir" da realidade. O seu amigo, por outro lado, afirmava repugnar o falso prazer do entretenimento, referindo que devíamos obter a capacidade de nos ocuparmos com pensamentos e ideias sobre o presente, o futuro e o passado, não com atividades, visto que o tempo já passa rápido e "não necessita de impulsos" para tal.
Por conseguinte, no que toca ao amor, Raul, que até ao momento só o via como "uma necessidade orgânica", passou a vê-lo como uma forma de felicidade, após um teatro onde conhece Marcela, a sua futura esposa. Porém, após o casamento, as sua ideias descabidas começam a aumentar, e Raul começa a ficar cada vez mais "louco", acabando por perder Marcela, pois esta cansa-se das suas atitudes e foge dele. Raul fica, por fim, sozinho, ingere vitríolo (um ácido forte e corrosivo) e, desta forma, suicida-se.
A escrita de Mário de Sá-Carneiro é hábil e não nos fornece respostas fáceis! Os motivos que levaram Raul ao suicídio permanecem envoltos em mistério, deixando espaço para tirarmos as nossas próprias conclusões.
Finalmente, considero este livro uma boa aposta de leitura, pois, além de me ter fascinado bastante, a sua narrativa é muito interessante e, ao misturar a realidade com a sua presunção, o autor capta a atenção dos leitores, fazendo-os gostar da leitura.
Título: “Loucura”
Autor: Mário de Sá-Carneiro
Editora: Colares editora
Modo/género literário: Narrativo / Novela
Sugestão de leitura da aluna Ana Familiar, do 10.º H2