Visita de estudo a Praga, cidade de ângulos e luz, onde os “ismos” cruzam a história

As alunas Sofia Soares e Sofia Miranda, do 12.º AJD
07/06/2024

De 10 a 14 de fevereiro, um grupo de finalistas do Curso de Assessoria Jurídica e Documentação (AJD), acompanhado por alguns dos seus professores, teve o privilégio de realizar uma viagem de estudo à cidade de Praga, na República Checa.

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A sua realização enquadrou-se perfeitamente no que significa fazer parte desse Curso, pela exigência de lembrar para não esquecer e/ou repetir as afrontas cometidas aos Direitos Humanos: um desígnio por cumprir. Desde o primeiro momento, explicaram-nos que “ser AJD é fazer a diferença” e ensinaram-nos a pensar, de forma crítica, e a defender o que é justo e equitativo, em particular, junto dos mais vulneráveis.


Neste sentido, todos os anos, o Curso promove a celebração do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, alertando os estudantes para o risco de genocídio no mundo contemporâneo.


No ano letivo 2022/23, convidámos o Dr. António Sousa Mendes para discursar sobre a história do seu avô, o cônsul português Aristides de Sousa Mendes, que, com imensa coragem, desafiou Salazar, salvando a vida de 30.000 refugiados durante a Segunda Guerra Mundial. Por sua vez, no presente ano letivo (2023/24), a lembrança teve como objeto o campo de concentração de Theresienstadt (Terezin), que visitaríamos: foi exposta, na Biblioteca Escolar, uma instalação que contou a importância da arte na vida daqueles que não tiveram direito a ter infância. A par desta, foram desenvolvidas a tela "Se eu tivesse crescido em Terezin", na qual os alunos do CIC tentaram interpretar a vida no campo – uma tarefa impossível –, e a recriação dos carris de Theresienstadt, à porta, fazendo “tropeçar” a comunidade escolar nas perdas que os conflitos da atualidade têm causado.


Num ano em que se celebram os 75 anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, a visita de estudo a Praga resultou do estudo constante de temas, como o Holocausto, da interação com a lembrança da dor provocada pela intolerância e pelo ódio, na História do Mundo, e da organização de atividades levadas a cabo pelos alunos do Curso. De facto, a sua concretização só foi possível com esforço e dedicação e através do trabalho em equipa, uma vez que “um sonho sonhado sozinho é apenas um sonho, um sonho sonhado junto é uma realidade.”


Esperavam-nos dias repletos de entusiasmo: a viagem foi planeada com o objetivo de conhecer, in loco, as lições do manual de História referentes ao período entre a Segunda Guerra Mundial e a queda do Muro de Berlim. Visitámos inúmeros locais da cidade de ângulos diferentes, onde os “ismos” fulcrais da história do mundo e, em especial, da cidade de Praga se cruzam – cada um irreverente à sua maneira:


No âmbito do estudo do Comunismo, visitámos o Bunker Nuclear de Praga – a instalação no subsolo com precárias condições de habitabilidade, onde os cidadãos de Praga se refugiavam perante a iminência de ataques nucleares por parte do regime comunista! O Bunker estendia-se por longos quilómetros e, atualmente, constitui um museu-exposição sobre o percurso político vivido, com elementos que marcaram a preparação para caso de ameaça, desde máscaras de gás às armas metralhadoras.


Praga é um espelho do poder revolucionário estudantil – associado ao qual visitámos, entre outros, a longa Avenida da cidade, a Praça Venceslau e o memorial em honra de Jan Palach, um jovem ativista checo que se imolou na luta pela democracia. Nestes locais, pudemos absorver um pouco sobre importantes datas como o 17 de novembro, dia do início da Revolução de Veludo – a revolta popular iniciada pelos estudantes que pôs fim a quatro décadas de ditadura comunista soviética, no que era a Checoslováquia.


Com o intuito de consolidar os conhecimentos sobre o Nazismo (forma de fascismo que despreza a democracia liberal e o sistema parlamentar, incorporando o racismo científico, o antissemitismo, o anticomunismo e o uso de eugenia no seu credo), visitámos o Campo de Concentração de Theresienstadt, um campo de passagem, que promoveu o aprisionamento e morte de 140 mil pessoas, das mais vastas faixas etárias, pertencentes a grupos minoritários, como os judeus, os ciganos, os homossexuais e, ainda, presos políticos.


Dotado de peculiaridades, este campo era administrado por um Concelho Judeu que coordenava todas as operações executadas. Considerando as cerca de 15 mil crianças que residiam no campo, era promovida a encenação de peças de teatro e a música, dado, não só o apreço do Führer – Hitler – pelas artes, mas também a imagem de “retiro para as altas classes” que este queria passar para o mundo exterior.


No local, fomos acompanhados por um guia (descendente das atrocidades cometidas em Terezin), que explicitou a história e o quotidiano do campo de concentração, apresentando os diversos espaços que constituem a prisão para a qual eram enviados os “criminosos” da época. Na etapa final desta visita, pudemos visualizar um chocante vídeo que retratava a farsa sobre Teresienstadt transmitida para o exterior, a par da realidade vivida e do número de vítimas provocado.


Visitámos, ainda, o museu do “ghetto”, no qual fomos confrontados, mais uma vez, com o número de vítimas do extermínio que preenchiam as paredes de uma das salas, as obras de arte, já estudadas por nós antes de partirmos, realizadas pelas crianças ali prisioneiras e a história da cidade e da fortaleza face à soberania dos regimes nazi e comunista.


Por fim, no que concerne à consolidação de conhecimentos sobre o Judaísmo e o povo Judeu, vítima mais significativa do nazismo, realizámos um dos itinerários mais populares da cidade de Praga: o Roteiro das Sinagogas Judias – isto é, os templos religiosos judaicos que ainda existem em Josefov (o bairro judeu). Neste sentido, explorámos, com auxílio de um áudio-guia, as sinagogas Pinkas, Maisel, Espanhola, Klausen, Alta e Velha-Nova, nas quais estão expostos variados aspetos da História e cultura judia, desde os seus objetos de culto, os mitos nos quais acreditavam e a arte que produziam, a construção do bairro judeu e a sua ascensão, ao seu extermínio, durante na Segunda Guerra Mundial e a honra às vítimas.


História à parte, deambulámos pela cidade, atravessando a Karlův most (Ponte Carlos) a ponte mais antiga de Praga, que estabelece a comunicação entre a Cidade Velha e a Cidade Pequena. Consequentemente, visitámos o muro do ilustre John Lennon, cujo falecimento despertou nos, à data, checos, a revolta e os protestos contra o governo, através de slogans. Assim, surgiu o dito muro, onde as pessoas, através do “graffiti”, podem, livremente, expressar as suas convicções sobre a importância de questões como a paz, a ecologia e a unidade.


Visitámos, ainda, edifícios imponentes e marcantes na história da cidade como a Biblioteca Municipal, o Orloj – o Relógio Astronómico –, o Museu Nacional e inúmeras Igrejas com características arquitetónicas avassaladoras.


Como todos os países, a República Checa dispõe, também, de uma gastronomia única, destacando-se, porém, o Trdelník, um doce maravilhoso feito com massa rolada, envolvida em torno de um espeto, e então grelhado e recoberto com açúcar e canela, indispensável aos turistas que visitam a cidade.


Por fim, agradecemos a possibilidade de explorar a cidade de Praga, que ficará para sempre na nossa memória enquanto uma aprendizagem de consciência, na qual pudemos refletir sobre o passado, observar o presente e questionar o nosso papel futuro na defesa ativa dos Diretos Humanos!

 


As alunas Sofia Soares e Sofia Miranda, do 12.º AJD

 

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