“Não existe um caminho para a felicidade.
A felicidade é o caminho.”
Thich Nhat Hanh.
Desde a antiguidade que os filósofos tentam caracterizar a felicidade, e não há duas opiniões iguais. Alguns defendem a definição coletiva, outros agarram o conceito individual, e as definições vão-se adaptando aos contextos e às gerações. Por exemplo, para Aristóteles (384-322 a.C.), a felicidade é a virtude e o uso moderado dos prazeres; para Nietzsche (1844-1900), a felicidade é força vital, espírito de luta contra todos os obstáculos; e segundo Slavoj Zizek (1949), a felicidade é uma questão de opinião, e não de verdade.
Apesar da dificuldade em encontrarmos uma única definição, não há dúvidas do quanto a felicidade pode ser influenciada pela biologia. Todos os indivíduos nascem com um valor de referência para a felicidade (cerca de 50%), que está relacionado com a herança genética dos progenitores, ou seja, cada um de nós tem uma tendência para ser mais otimista ou pessimista, em termos de personalidade. Por outro lado, os outros 50% dependem da dedicação e empenho do indivíduo. Destes 50%, 10% referem-se a circunstâncias da vida, tais como aparência, dinheiro, estatuto social e afins. E os restantes 40%, dos fatores promotores da felicidade, relacionam-se com o comportamento e a forma como o indivíduo pensa, age e lida como o que lhe acontece na vida.
E será a escola um fator promotor de felicidade?
O maior desejo da maioria das civilizações é criar crianças felizes enquanto aprendem, e não apenas nos momentos de lazer, aos fins de semana ou longe da escola. Na escola, as crianças desenvolvem-se como pessoas, estabelecendo redes sociais significativas e desenvolvendo as suas competências sociais e emocionais, o que torna a escola num dos contextos mais influentes no desenvolvimento de crianças e adolescentes (juntamente com as famílias e o grupo de pares). Além disso, a escola é um poderoso potencial elevador social, que garante a equidade e a democracia nas gerações futuras.
Com o objetivo de caraterizar a perceção de felicidade dos alunos e professores portugueses na escola, atendendo às dimensões de bem-estar geral, bem-estar na escola e esperança, e, ainda, identificar, por um lado, a influência dos contextos e/ou ecossistemas (escola, colegas e família) e, por outro, a importância que a perceção de um desenvolvimento sustentável do planeta tem na perceção de felicidade, foi realizado um estudo exploratório, "Bem-estar e felicidade nas escolas portuguesas", cujos resultados foram apresentados em novembro de 2023.
Esta iniciativa, da responsabilidade da Escola Amiga da Criança (LeYa Educação, CONFAP e Eduardo Sá) em parceria com a Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa, a Católica Porto Business School, o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, o Instituto de Saúde Ambiental/Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e a equipa Aventura Social, com o apoio da EGF, incluiu 5038 professores entre os 20 e os 70 anos, 85,8% dos quais mulheres, e 3130 alunos entre os 9 e os 20 anos, dos quais 52,1% do género feminino, de todo o país, que foram inquiridos, por autorrelato, com diversos instrumentos adequados aos temas em análise. A auscultação foi realizada entre 21 de novembro de 2022 e 21 de janeiro de 2023.
As conclusões de todo o estudo vão desde o expectável ao surpreendente, em alguns casos. Deixo aqui algumas, as que me pareceram pertinentes, para ajudar a responder à questão colocada anteriormente, a saber:
- Os alunos apresentam, no geral, valores de felicidade superiores aos dos professores;
- A regulação das emoções, os professores e o desempenho escolar também contribuem positivamente para o bem-estar dos alunos;
- O clima (ecossistema) “família” é o aspeto mais importante no bem-estar geral, e o clima “professores” é o que melhor explica o bem-estar na escola;
- Os rapazes apresentam maior bem-estar geral do que as raparigas, mas, na escola, o seu bem-estar é inferior, resultado algo inesperado;
- Os alunos das escolas públicas revelam menor sentimento de bem-estar na escola do que os das privadas, embora revelem maior perceção de bem-estar geral;
- O desempenho dos alunos não parece ser determinante para o seu bem-estar na escola, mas, sim, para o seu bem-estar geral;
- O contexto socioeconómico não influencia a perceção de bem-estar na escola (empenho e pertença) dos alunos, o que revela bons níveis de equidade nas escolas;
- As preocupações ambientais têm impacto positivo no bem-estar na escola dos alunos e alunas, e no bem-estar geral dos rapazes;
- Os professores consideram os outros professores como elemento preponderante para o seu bem-estar na escola;
- Os professores das escolas públicas apresentam índices de bem-estar geral e na escola mais baixos do que os das privadas;
- As preocupações ambientais têm impacto negativo, no bem-estar geral e na escola dos professores – resultado contrário ao que acontece no caso dos alunos;
- Os professores do género masculino apresentam níveis de bem-estar geral mais elevado do que as professoras (resultado similar ao dos alunos).
Este estudo pode ser consultado na integra em: https://www.resulima.pt/media/aknhqzoj/bem-estar-e-felicidade-nas-escolas-portuguesas.pdf
Votos de um feliz ano letivo!
Prof.ª Isabel Cristina