Falar Saúde n.º 129
Elixir da Imortalidade

Prof.ª Isabel Cristina
25/03/2025

A Kombucha está na moda e dizem os especialistas que esta é muito mais do que uma bebida. Confesso que, até há um ano, quando os alunos do curso de Biotecnologia (BT) deram início ao projeto de produção de Kombucha (com os sabores limão, maçã e maçã e canela), nunca tinha provado tal e fiquei agradavelmente surpreendida com o seu sabor e leveza. De tal forma, que procurei ficar a conhecer melhor este “chá de bactérias” e decidi partilhar as minhas descobertas convosco, numa altura em que nos aproximamos da ExpoCIC e durante a qual os alunos de BT irão mostrar, pelo segundo ano consecutivo, os resultados do seu projeto, nomeadamente com a apresentação de novos sabores de Kombucha: kiwi e maracujá.

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“A natureza não se apressa, no entanto, tudo se concretiza”
(Lao Tzu)

 

Então, Kombucha é uma bebida fermentada, levemente gaseificada, feita a partir de chá com açúcar (geralmente chá preto ou chá verde) que passa por um processo de fermentação, com a ajuda de uma cultura de bactérias e leveduras designada SCOBY (Symbiotic Culture of Bacteria and Yeast), abreviatura inglesa para “Cultura Simbiótica de Bactérias e Leveduras”. Tem um sabor ligeiramente ácido e adocicado, podendo ter sabores adicionais de frutas, ervas ou especiarias, e a sua cor varia conforme o tipo de chá e os ingredientes adicionados.


A origem da Kombucha encontra-se rodeada de mistério, mas acredita-se que tenha surgido há mais de 2000 anos na Ásia. Existem registos que apontam para a China antiga, durante a Dinastia Han (cerca de 200 a.C.), onde a bebida era conhecida como “Elixir da Imortalidade”, devido aos seus potenciais benefícios para a saúde. Entretanto, diz-se que um médico coreano chamado Kombu levou a bebida para o Japão, no séc. V, para tratar problemas digestivos do imperador e o nome "kombucha" seria uma combinação de "Kombu" (o nome do médico) e "cha" (chá em japonês). No século XIX, popularizou-se em regiões da Rússia e do Leste Europeu, onde era chamada de "Chá de Cogumelo" por causa da aparência do SCOBY. Atualmente, é consumida em todo o mundo, como uma bebida natural, associada a um estilo de vida saudável, em parte graças às redes sociais que desempenharam um papel importante na popularização desta bebida, uma vez que as embalagens são atraentes e o “design” é “instagramável”, o que impulsiona a curiosidade.


O seu processo de produção não é complicado, mas exige cuidado, tempo e paciência, pois, sendo um processo natural, ensina-nos a respeitar o tempo certo para tudo, como diria Lao Tzu. No caso da Kombucha caseira, esta deve ser preparada, ainda, com mais cuidado para evitar contaminação.


Devem estar a perguntar-se: “Por que razão estamos a falar de Kombucha nesta rubrica?” Porque, embora muitas das informações que temos se baseiem em experiências pessoais dos consumidores e em estudos preliminares, algumas pesquisas científicas já sugerem efeitos positivos da Kombucha na nossa saúde. Assim, são diversos os benefícios que lhe são atribuídos, nomeadamente, ao nível da(o):


Saúde Digestiva

A Kombucha é rica em probióticos (bactérias benéficas) resultantes do processo de fermentação. Apesar dos níveis de probióticos variarem em função do tempo de fermentação e do tipo de chá utilizado, estes microrganismos podem ajudar a:

  • equilibrar a flora intestinal (microbiota);
  • melhorar a digestão e aliviar problemas como obstipação (“intestino preso”) ou inchaço;
  • fortalecer a barreira intestinal, o que pode reduzir a inflamação no intestino.


Sistema Imunológico

A presença de antioxidantes, ácidos orgânicos (como ácido acético) e probióticos pode ajudar a:

  • fortalecer a imunidade, combatendo microrganismos nocivos;
  • reduzir a inflamação e o stress oxidativo, que estão associados a várias doenças crónicas;
  • melhorar a absorção de nutrientes essenciais para o corpo.


Saúde Mental

Há uma forte ligação entre o intestino e o cérebro (eixo intestino-cérebro). Assim, consumir alimentos fermentados como a Kombucha pode:

  • ajudar a reduzir a ansiedade e o stress;
  • melhorar o humor, já que as bactérias saudáveis no intestino estão relacionadas com a produção de neurotransmissores, como a serotonina.


Saúde Cardiovascular

Alguns estudos em animais sugerem que a Kombucha pode ajudar a:

  • reduzir os níveis de colesterol LDL (“mau”) e aumentar o HDL (“bom”);
  • melhorar a pressão arterial devido à presença de antioxidantes.


Açúcar no Sangue

A Kombucha feita a partir de chá verde pode ajudar a:

  • regular os níveis de glicose, auxiliando na prevenção de picos de açúcar no sangue;
  • melhorar a sensibilidade à insulina, o que pode beneficiar pessoas com risco de diabetes tipo 2.


Desintoxicação Natural

A Kombucha contém ácidos orgânicos (como o ácido glucurónico) que podem ajudar a:

  • auxiliar o fígado na eliminação de toxinas;
  • auxiliar na limpeza do organismo, facilitando a eliminação de substâncias nocivas.

 

Apesar de todos estes benefícios, é importante consumir esta bebida com moderação, pois o seu excesso pode causar desconforto digestivo, devido aos ácidos e probióticos, sendo que as grávidas e os imunodeprimidos devem consultar um médico antes de consumir Kombucha.


Por fim, e não menos importante, a Kombucha também se encaixa no conceito de “clean label”, projeto que valoriza produtos com rótulos simples, transparentes e ingredientes reconhecíveis. Cada vez mais, as pessoas querem saber exatamente o que estão a consumir, e a Kombucha oferece essa autenticidade. E com o aumento da preocupação ambiental, a Kombucha destaca-se, igualmente, por ser frequentemente produzida em pequenas quantidades (artesanal), usar processos fermentativos naturais, que têm menor impacto ambiental, e ser vendida em embalagens reutilizáveis, como garrafas de vidro.


Em resumo, a Kombucha combina benefícios reais à saúde com tendências culturais e de consumo consciente.

 

Prof.ª Isabel Cristina

 

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