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A Viagem do Elefante
A Viagem do Elefante é um fascinante livro
que esmiúça as fragilidades morais de todos os detentores da
racionalidade (o “H”omem). É na personagem de Salomão, ou Solimão,
elefante que há dois anos se encontra em Belém, desprezado e
maltrapilho no berço da sua guarda, que se retrata a profundidade da
experiência da vida. A agudez da escrita de Saramago - irónica,
verdadeira, sarcástica, sublime, igual a ele próprio – revela a
verdadeira identidade do português típico que se cativa por aquilo
que já não lhe pertence.
É, com certeza, um acento grave numa nova
página de um Livro Dos Itinerários, que se orquestra num fado
precipitado: «Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam». (José
Saramago, A Viagem do Elefante, p. 12)
Salomão, oferenda de D. João III ao
Arquiduque Maximiliano da Áustria, revela-se um expoente axiológico.
Desde a sua irredutível fidelidade à sua incrível docilidade, este é
um espirituoso elefante que se constrói com o perfil do fleumático,
com o auxílio imprescindível do loquaz silencioso cornaca (boca do
elefante calada nas imediações do poder), amigo de todas as suas
estações, expiração da sua inspiração.
Enfim, «faltam-me as palavras» (José
Saramago, Ibidem, p. 241). A rainha não quis falar, gritou e depois
chorou o dia inteiro. Fazem falta Salomão e o cornaca, que são como
lugares mal situados, «cavalos que fazem [sempre] sombra no mar».
(António Lobo Antunes)
Título: A Viagem do Elefante
Autor: José Saramago
Editora: Caminho
Modo/Género literário: Narrativo/Romance
Sugestão de leitura de Maria João Antunes
Neves, do 12.º BT 2, n.º 9562
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