Número 1
Como já deveríamos saber, a
representação mais exacta, mais precisa, da alma humana é o labirinto.
Com ela tudo é possível.
A Viagem do Elefante é um fascinante livro que esmiúça as fragilidades
morais de todos os detentores da racionalidade (o “H”omem). É na
personagem de Salomão, ou Solimão, elefante que há dois anos se encontra
em Belém, desprezado e maltrapilho no berço da sua guarda, que se
retrata a profundidade da experiência da vida. A agudez da escrita de
Saramago - irónica, verdadeira, sarcástica, sublime, igual a ele próprio
– revela a verdadeira identidade do português típico que se cativa por
aquilo que já não lhe pertence.
Departamento de Línguas Românicas - NES,
Glória Silva e Cláudia Monteiro, a partir de textos elaborados pelos
alunos no âmbito do Contrato de Leitura.
Número 2
Nadezhda soluçava. Pelo
canto do olho, Tomás percebeu que ela estava igualmente deitada no chão,
com uma kalashnikov colada à nuca. Fez-se silêncio na clareira.
Crack!
Um estrondo brutal soou ao lado de Tomás, ensurdecendo-lhe o ouvido
direito. Virou o rosto e constatou, horrorizado, que Nadezhda tinha a
cabeça desfeita. O sangue e a massa encefálica espalhavam-se pelo chão à
mistura com os cabelos cor de cobre.
“Vai-te embora, português”, disse o desconhecido, agora em inglês.
Esta obra, considerada um romance, prende-nos pela informação histórica,
técnica e científica nele referenciada.
Ao abrirmos a primeira página do livro, vislumbra-se um grupo de
cientistas que recebe a informação de que uma das plataformas de gelo
que estão a estudar se está a desmoronar, instalando-se, assim, o
pânico. Esta é uma das consequências do aquecimento global. É isso mesmo
que é abordado ao longo do livro: o motivo do aquecimento global e o que
fazer para o parar. Depois deste capítulo, é descrito um assassinato de
um cientista muito importante e a história vai-se desenrolando a partir
daqui. Tomás Noronha é contratado para desvendar o segredo do número
666, que era uma pista deixada.
Uma obra empolgante do notável autor José Rodrigues dos Santos, a não
perder.
Número 3
“À sua frente, Elisabeth gritava:
«A última a chegar é uma mariquinhas», e ela punha esporas ao cavalo e
com os cabelos ao vento galopava atrás dela, sentindo-se livre, tão
livre como quando o sal e o vento do barco em que viajara para Portugal
lhe enchiam os olhos e o cabelo. E a voz de Elisabeth, quente e
provocadora, chamava-a: «Vou chegar primeiro do que tu. Vou ganhar, vou
ganhar!» Ao longe um castelo de quatro torreões, e cada vez mais
próximo, mais próximo, mais próximo, o imenso portão de carvalho do
castelo de Bolingbroke, que se abria para si. Philippa voltava a casa.”
Deliciosamente fantástico, é a forma mais simples de resumir todo este
romance histórico.
Phillippa aparentemente não passava de uma menina simples, que da mãe
apenas herdara umas nuances esbatidas de beleza, mas que, por sorte ou
azar, nasceu como primogénita da grandiosa família de Plantagenea.
Phillippa sempre viveu à margem da incandescente beleza e fugaz
personalidade da sua irmã Elisabeth, a menina dos olhos do pai. No
entanto, a grande fé da princesa e o seu incansável gosto pelo
conhecimento permitiram que ela se tornasse numa das maiores mulheres do
século XIV em Portugal.
Número 4
“O coração é a víscera,
ferida de paralisia, a primeira que falece sufocada pelas rebeliões da
alma que se identifica à natureza, e a quer, e se devora na ânsia dela,
e se estorce nas agonias da amputação, para as quais a saudade da
ventura extinta é um cautério em brasa; e o amor, que leva ao abismo
pelo caminho da sonhada felicidade, não é sequer um refrigério.”
Este romance, escrito de memórias amargas, conta-nos a história de duas
almas perdidamente apaixonadas: Simão Botelho, herói, que, por amor,
redime todos os erros do passado, e Teresa Albuquerque, que se entrega
com coragem e firmeza ao seu sentimento por Simão.
O narrador prende-nos às suas páginas com a força de vontade e
determinação destes jovens, sempre dispostos a ir à luta, com aquela
força que todos desejamos, mas que parece sempre longe demais e com a
mais romântica das personagens, Mariana, que procurará morrer por não
ser capaz de suportar a morte de seu amado, sem nunca ter visto o seu
amor retribuído.
Número 5
“-Fiteiro, disse eu numa dessas ocasiões.
-Como tu, retorquiu Joana, minha filha. Tu também fazes fitas, pai, às
vezes amuas para chamar a atenção ou para que a gente te dê mimos, o cão
percebe isso tudo. E os manos fazem a mesma coisa. Até a mãe. O cão
imita-nos a todos, tudo o que ele faz é para que se repare nele e se lhe
dê mais carinho. Não é por ser cão que ele não tem sentimentos.
Cão como nós, pensei.”
Esta breve e emocionante narrativa de Manuel Alegre conta a história da
vida de um cão, Kurika. Um épagneul-breton é a surpreendente personagem
principal do livro deste poeta e político, com "manchas castanhas e uma
espécie de estrela branca no meio da cabeça”.
Um romance que nos conta a história de Kurika, um cão que não queria ser
cão, desobediente, teimoso, rebelde, caprichoso e era tão humano como
qualquer outro membro da família Alegre, fiel, sensível, apaixonado.
Alegre e comovente, esta obra é perfeita para quem gosta de cães, para
quem não gosta e para quem está a aprender a gostar. Um puro hino à
relação entre este incompreensível ser e o humano, uma relação que deixa
marcas para sempre.
Número 6
Viu os padres levarem a carne que tinha abandonado e levá-la para a pire
onde Gaius já estava a arder. Depois virou-se dessa luz menor para a
radiência que se estava a abrir à sua frente, mais brilhante que o fogo,
mais encantadora que a Lua.
O livro “A Casa da Floresta” conta-nos a história de amor entre Eilan e
Gaius.
Eilan é filha de Bendeigid, um druida conhecido, e viveu sempre na
Bretanha (nome dado à antiga Inglaterra). Os seus pais desejavam que ela
viesse a ser a Grã-sacerdotisa ou então que, pelo menos, se casasse com
um nativo inglês. Gaius é meio-romano, filho de um oficial do império
romano e de mãe inglesa.
Os dois conhecem-se quando Gaius se encontrava na Bretanha (pois ia
encontrar-se com umas legiões romanas que residiam perto da zona) e
apaixonam-se.
Eilan e Gaius, sendo de famílias completamente distintas – Eilan sendo a
escolhida para Grã-sacerdotisa e Gaius que poderia vir a ser um
importante oficial do império - sentem- se obrigados a esconder os seus
sentimentos.
Número 7
“ E Madalena parecia reflectir: «Escravo ou vadio… Antes escravo,
porque o vadio perde- se e o escravo liberta-se» ”.
Isto é, Madalena, mãe de João, pensava sobre o futuro do seu filho, ou
iria trabalhar para os telhais, como escravo, ou ficava a viver na rua,
como um vadio, uma coisa era certa, não voltava tão cedo para a escola.
Esteiros é uma obra escrita por Soeiro Pereira Gomes, publicada em 1941.
Com este romance, o autor pretendia criticar a sociedade e,
principalmente, os patrões da época, pela exploração de trabalho
infantil, bastante frequente naquela altura.
Esta história conta-nos a vida de vários jovens que, para ajudarem as
suas famílias, se viram obrigados a deixar a escola e a trabalharem nos
telhais, situados perto dos esteiros do rio Tejo. Neste lugar,
Gaitinhas, Gineto, Maquineta, Sagui, entre muitos outros meninos
trabalhadores, produziam telhas de barro.
Note-se que este era um trabalho bastante duro e cansativo, trabalhavam
como escravos, tinham pouquíssimas horas de descanso, e, ainda, eram
maltratados, mas esta era a única solução para a maior parte destes
rapazes. Apesar de tudo isto, ainda conseguiam sonhar.
Número 8
Robert Langdon entrara na Rotunda do Capitólio muitas vezes na sua
vida, mas nunca a correr daquela maneira. Ao passar pela entrada norte,
viu um grupo de turistas aglomerado no centro da sala.
-Ele tirou-a da ligadura onde trazia o braço ao peito - disse alguém
freneticamente - ele limitou-se a deixá-la ali!
Via agora o sangue. Meu Deus!
Em Símbolo Perdido, Robert Langdon, célebre professor de Harvard, é
convidado pelo seu amigo e mentor Peter Solomon, um importante maçom e
filantropo, a dar uma palestra no Capitólio dos Estados Unidos. Ao
chegar lá, descobre que caiu numa armadilha. Não há palestra nenhuma,
Solomon está desaparecido e correndo grande perigo.
Mal’akh, o sequestrador misterioso, acredita que os fundadores de
Washington, a maioria deles mestres maçons, esconderam, na cidade, um
tesouro capaz de dar poderes sobre-humanos a quem o encontrasse. E está
convencido de que o professor Langdon é a única pessoa que pode
localizá-lo…
Número 9
Nos dias que passam desejo muitas coisas, mas, acima de tudo, gostaria
que estivesses aqui comigo. É estranho, mas já não me recordo da última
vez em que chorei, antes de te conhecer. Agora, segundo parece, tenho
facilidade em fazer correr lágrimas… mas tens uma maneira de demonstrar
que os meus desgostos têm a sua utilidade, de explicar as coisas de modo
a aliviares as minhas mágoas.
Adrienne Willis, uma mulher corajosa, educou os seus filhos sozinha,
depois de o marido a ter abandonado por uma mulher mais jovem. Passados
quinze anos, a filha Amanda encontra-se, criticamente, desesperada: a
morte do marido envolvera-a numa dor abismal. Adrienne compreende-a e,
consciencializando-se de que ela, apesar do sofrimento, tem dois filhos
para instruir, resolve contar-lhe o seu íntimo segredo. Fora uma
história alucinante, há catorze anos… Adrienne, com quarenta e cinco
anos, encontrava-se divorciada há três e ainda não tinha conseguido
reorganizar a sua vida amorosa. Até que, um dia, a amiga a convidara a
cuidar da sua estalagem, em Rodanthe, durante um fim-de-semana.
Número 10
Ergueu os olhos para os da esposa e, parados no tempo, permaneceram
fundidos pelo olhar, entrando um no outro pelas janelas da alma.
Inexistiam entraves, medos ou segredos entre eles. Havia apenas
certezas. A certeza de um amor que cruzava as montanhas, atravessava os
rios, rompia os dogmas e preconceitos religiosos, as barreiras
culturais, uma flor cujo caule radicava em cada um dos palpitantes
corações.
Diariamente chegam-me às mãos dezenas de manuscritos de autores
emergentes que procuram conhecer a minha opinião sobre o seu trabalho.
Nenhum me surpreendeu tanto como A Escrava de Córdova.”
José Rodrigues dos Santos, escritor e jornalista
“A Escrava de Córdova é um romance histórico que tem lugar na Ibéria dos
séculos X – XI. Tem como tese a convivência entre muçulmanos e cristãos
(e também judeus), propondo a ideia de um Deus único que se manifesta
culturalmente de formas diferentes. Tese eficaz e arrojada, onde creio
que pensadores e filósofos vão passar boa parte do séc. XXI, um dos
claros pontos de sucesso do romance.”
Pedro Sena-Lino, poeta, escritor e crítico literário
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