FALAR SAÚDE Nº 27: Arde, mas não é amor

Prof. Isabel Cristina
15/02/2012

Nas últimas semanas temos sentido o aumento do número de casos de gripe típicos nesta altura do ano. Segundo o boletim de gripe, da responsabilidade do Instituto Nacional de Saúde...

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Rubrica GOVCIC 02 de Março de 20
 

 

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Falar Saúde
15 de Fevereiro de 2012

 

 

 

 

 


As febres da alma, como as do corpo, tratam-se mudando de lugar
Ramón de Campoamor y Campoosorio


Falar Saúde Nº 27
Arde, mas não é amor

Nas últimas semanas temos sentido o aumento do número de casos de gripe típicos nesta altura do ano. Segundo o boletim de gripe, da responsabilidade do Instituto Nacional de Saúde e relativo à semana de 30/01 a 05/02 deste ano, a atividade gripal tem sido moderada com tendência crescente e com uma taxa de incidência mais elevada no grupo etário dos 15-64 anos. Foram ainda detetados 9 vírus influenza do tipo A (H3). (Note-se que o vírus influenza que gerou o pânico na época 2009/10 era do tipo A, mas do subtipo H1)

Independentemente dos dados verifica-se que alunos e colaboradores têm estado na mira do vírus e o mal-estar geral tem levado ao seu absentismo. Um dos sintomas mais incomodativos é, sem dúvida, a temperatura elevada e, por experiência própria, percebi que esta é “um osso duro de roer”. Imediatamente me assolou que este seria um ótimo tema para desenvolver aqui, até porque talvez não saibam como combater a febre sem ser com medicamentos.

Na minha pesquisa encontrei alguns documentos muito interessantes num dos sítios da responsabilidade da Porto Editora, o Educare.pt, que desde já recomendo pela sua qualidade em temáticas diversas. Desta forma selecionei as informações que se seguem, da autoria de Hugo Cavaco, com a colaboração de Sofia Martins, pediatra do Serviço de Pediatria do Hospital de São Marcos de Braga. Apesar de especialmente dirigidas à febre infantil, devido à fragilidade das crianças, as referidas indicações podem também ser adaptadas aos mais velhos. Espero que vos sejam úteis.


Qual a definição de febre?

A febre define-se como uma elevação da temperatura corporal, acima dos valores considerados normais para a criança. Contudo, há que ter em consideração que a temperatura corporal varia de acordo com vários fatores: o ritmo circadiano (diário), sendo mais baixa por volta das 4 horas e mais elevada por volta das 18 horas, com uma variação máxima de 0,6 ºC, a temperatura ambiente, o vestuário, a atividade física, alterações emocionais e também com o local onde se faz a medição. Desse modo, podemos considerar que uma criança tem febre se tiver uma temperatura retal superior a 38ºC, timpânica superior a 37,6 ºC e axilar superior a 37,4 ºC, tendo em atenção que não nos devemos basear num valor único. Habitualmente é mais consensual considerar que a criança tem febre se apresentar uma temperatura axilar superior a 38 ºC, independentemente da idade.


Qual o seu mecanismo?

A temperatura corporal é regulada pelo centro termorregulador do organismo, situado no cérebro, mais precisamente no hipotálamo anterior, que funciona como um termóstato. Na presença de febre, o hipotálamo ajusta o ponto de termorregulação para um valor mais elevado, levando o organismo a aumentar a temperatura corporal para atingir esse valor. Na prática, isso dá origem aos sinais e sintomas comuns de febre como os tremores e arrepios (contração muscular para produção de calor) e mãos e pés frios (vasoconstrição periférica para preservação de calor).


É sinónimo de doença grave?

Na grande maioria dos casos, a febre é desencadeada por processos benignos, funcionando como um mecanismo de defesa do nosso organismo, dando-nos indicações que o nosso sistema imunitário está a reagir a uma agressão externa (como por exemplo uma bactéria ou um vírus). Não deve por isso ser vista como uma "doença", mas sim como uma primeira etapa no combate a uma eventual "doença". Todos nós sabemos que a febre surge habitualmente como resposta a agentes infeciosos (bactérias, vírus, fungos ou outros microrganismos), mas também pode ser provocada por agentes não infeciosos como medicamentos, vacinas, traumatismos ou queimaduras. Regra geral dura apenas alguns dias e não tem complicações graves. Os sinais e sintomas da febre podem ser óbvios ou subtis, consoante a idade da criança, sendo mais difícil de avaliar nas crianças mais pequenas. Nos lactentes (crianças com menos de 12 meses), a febre pode manifestar-se por irritabilidade, apatia, sonolência, choro, recusa alimentar, respiração acelerada, alterações dos hábitos de sono/vigília, entre outros. Nas crianças mais velhas, estas podem queixar-se de sensação de calor/frio, dores corporais, dores de cabeça, dificuldade em dormir ou maior sonolência, diminuição do apetite, etc.


Como medir a temperatura?

A medição da temperatura deve ser feita utilizando um termómetro. No mercado existem termómetros de vidro, de mercúrio, digitais e timpânicos (auriculares). Os termómetros de vidro têm o risco de partir e a leitura pode demorar alguns minutos. Os termómetros auriculares podem ser usados em crianças mais velhas, contudo, apesar de a leitura ser rápida, têm que ser muito bem colocados para que a leitura seja correta e podem dar valores alterados caso a criança apresente cera em excesso, ou dar valores mais elevados na presença de uma otite. Os termómetros de mercúrio não devem ser utilizados pelo risco de exposição acidental a este tóxico. Os termómetros mais utilizados e fidedignos são os termómetros digitais.


O que fazer em caso de febre?

Em casa, a abordagem da criança, com febre tem três objetivos principais: reduzir a temperatura corporal (<38,9 ºC), prevenir a desidratação e vigiar o aparecimento de sinais de gravidade.

As crianças com febre devem ter o mínimo de roupa vestida, pois o excesso de roupa impede o corpo de arrefecer. Os fármacos antipiréticos têm como principal função aliviar o desconforto provocado pela febre, devendo ser utilizados apenas nos casos em que haja uma elevação da temperatura (> 38 ºC) e não profilaticamente. Os fármacos mais utilizados em pediatria, pela eficácia demonstrada e pelo reduzido número de efeitos colaterais, são o paracetamol e o ibuprofeno. No entanto, é fundamental respeitar as doses recomendadas para o peso e o intervalo mínimo entre cada administração, para evitar potenciais efeitos colaterais como toxicidade hepática e renal (paracetamol), ou a fasceíte necrotizante (infeção bacteriana grave, em crianças com varicela que tomem ibuprofeno). O melhor é usar inicialmente só o paracetamol se se conseguir controlar a febre apenas com este fármaco. O ácido acetilsalicílico está contraindicado em crianças com varicela ou gripe devido à associação com a Síndrome de Reye, uma situação grave com atingimento do fígado e do sistema nervoso central.

O facto de a temperatura não baixar após a administração de antipiréticos não significa que o fármaco seja ineficaz. Nestes casos, podemos recorrer a medidas físicas para ajudar a baixar a temperatura (não devendo ser utilizadas isoladamente). A criança deve ser colocada num ambiente com uma temperatura de 20-22 ºC e com o mínimo de roupa vestida. O banho de água tépida tem maior utilidade nas crianças mais pequenas e consiste na imersão da criança em água 2 a 5 ºC abaixo da temperatura corporal durante 15-20 minutos. Nas crianças mais crescidas, podem utilizar-se esponjas ou compressas. Não se deve utilizar água fria nem gelo, pois isso impede a libertação de calor (vasoconstrição) e pode mesmo levar a um aumento da temperatura corporal (tremores e arrepios). A fricção com álcool está contraindicada devido à toxicidade inerente à absorção cutânea deste tóxico.

A febre faz com que o nosso organismo perca água através da pele e dos pulmões. Torna-se por isso fundamental prevenir a desidratação nas crianças. Devemos por isso encorajar as crianças a ingerir bastantes líquidos, de preferência sumos (sem cafeína), canja de galinha ou soluções de reidratação oral. A água pode ser dada, mas não possui eletrólitos ou glicose suficientes para repor as perdas da criança e o chá não deve ser administrado pois estimula a produção de urina (agravando a desidratação).

Após a diminuição da temperatura e a hidratação adequada, os pais poderão mais facilmente avaliar o estado da criança, identificando possíveis sinais de gravidade que possam necessitar de assistência médica.

Prof. Isabel Cristina

 

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