FALAR SAÚDE Nº 47: Bebidas: energéticas ou isotónicas?

Prof. Isabel Cristina
04/03/2013

Quem nunca passou a noite inteira acordado para estudar, para acabar um trabalho ou mesmo numa festa?

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Rubrica GOVCIC 02 de Março de 20
 

 

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Falar Saúde
4 de março de 2013

 

 

 

 

 


No início você toma uma bebida, depois a bebida toma uma bebida, depois a bebida toma-o a si.
Scott Fitzgerald


Falar Saúde Nº 47
Bebidas: energéticas ou isotónicas?

Quem nunca passou a noite inteira acordado para estudar, para acabar um trabalho ou mesmo numa festa? Nestas situações parece que o dia tem poucas horas, mas mesmo assim é necessário muita energia para aguentar tanto tempo! O corpo também precisa de repouso. Foi a pensar nisto e em outras alternativas ao café que foram criadas as bebidas energéticas, de forma a recarregar as baterias das pessoas.

Hoje em dia, estas bebidas são compradas por pessoas de diversas idades e usadas para variados fins, até mesmo por atletas que desejam melhor desempenho.

As bebidas energéticas contêm cafeína, que é um estimulante do sistema nervoso central (SNC). A cafeína presente nestas bebidas encontra-se em elevada quantidade, sendo por isso o seu principal ingrediente ativo, induz uma sensação de energia sem fim e ausenta as sensações de cansaço. Esta falsa energia sentida não tem correspondência com as calorias realmente disponíveis no corpo, sendo este desequilíbrio perigoso, sobretudo em práticas desportivas de elevada intensidade.

A cafeína é tolerada por pessoas saudáveis, se o seu consumo for moderado, mas pode provocar nervosismo, irritabilidade, ansiedade, insónia, disritmias, palpitações, desconforto gástrico, náuseas, vómitos, dor abdominal, alteração do estado de consciência, paralisia, alucinações, aumento da pressão intracraniana, edema cerebral, convulsões e até a morte. Consumir uma bebida energética mais quatro cafés, geralmente, leva-nos a ultrapassar a dose segura da cafeína (400 mg diários). Doses de 1g/dia levam a sintomas agudos e o consumo de 5-10g/dia pode ser fatal.

Outro componente destas bebidas é a taurina (curiosamente é daqui que resulta o nome Red Bull, já que esta tem uma cor avermelhada), que é um aminoácido natural no ser humano e em alguns alimentos, mas sempre em pequenas quantidades, ao contrário do que acontece nas bebidas energéticas onde apresenta valores excessivamente elevados (uma lata de Red Bull tem tanta taurina como 500 taças de vinho). Estes valores aumentam os efeitos dos estimulantes e a frequência cardíaca.

Outros componentes são: glucoronalactona, guaraná, hidratos de carbono, vitaminas, minerais, muitos açúcares, efedrina e piruvato.
Mas será vantajosa a ingestão destas bebidas? Desde que o seu consumo seja ocasional e moderado, não haja abusos de outras fontes de cafeína e não se faça misturas com álcool, não será prejudicial para os adultos.

Ao contrário das vantagens, as desvantagens são muitas. As bebidas energéticas tendem a mascarar os efeitos do álcool, dando a sensação de segurança, por exemplo, a conduzir, mas esta mistura pode mesmo levar à morte e, por isso, não se devem misturar. É preciso ter cuidado também com alguns componentes destas bebidas como, por exemplo, a efedrina, pois quando combinada com a cafeína pode causar graves problemas cardíacos ou o piruvato que, em doses elevadas, leva a problemas gastrointestinais. Estas bebidas estão associadas a um considerável risco de desidratação e a outras complicações que podem ser graves, não se conhecendo quaisquer benefícios terapêuticos.

Segundo Luciano Vacanti, um cardiologista brasileiro, estas bebidas podem criar dependência do ponto de vista físico e psicológico. “Isto também é uma constatação fácil de perceber no consultório; atendo pessoas que relatam insegurança em fazer as coisas sem as bebidas, que só se sentem bem após a sua ingestão”.

A cada ano surgem novas evidências que indicam que o consumo exagerado deste produto pode resultar em problemas de saúde, sobretudo do coração, por isso, quem tem problemas cardíacos e de hipertensão deve evitar estas bebidas.

Em Portugal, a venda das bebidas energéticas é livre, mas em alguns países esta venda já foi proibida de forma a evitar que os adolescentes, e até mesmo pré-adolescentes, não comprem este produto.

Vejamos agora as diferenças entre estas e as bebidas isotónicas.

As bebidas isotónicas, ao contrário das energéticas, não contêm cafeina nem taurina, sendo que os seus ingredientes principais são dois: hidratos de carbono (fornecem energia aos músculos) e sódio (mantém o equilíbrio de fluidos no organismo). A concentração é essencial. Um isotónico deve ser composto 6 a 8% por hidratos de carbono, pois nesse caso é absorvido mais rapidamente do que a água. Também deve conter 50 mg de sódio por 100 ml de bebida, bem como outros eletrólitos (tais como cloreto, potássio, cálcio e fósforo) em quantidades reduzidas. Assim, as principais funções deste tipo de bebidas são a reidratação, a reposição de eletrólitos e o fornecimento de energia.

Este tipo de bebidas é importante sobretudo para quem pratica exercício físico. A intensidade e a duração do esforço físico são fatores decisivos na sua ingestão. Geralmente, a água é suficiente em treinos curtos, já no caso de uma atividade física intensa que dure mais de 60 minutos, é aconselhado um isotónico.

Por outro lado, o uso de uma bebida isotónica só é justificado quando há perda de pelo menos 2% de massa corporal (por transpiração) ao longo de todo o treino, o que pode ser calculado da seguinte forma:

100 - (Massa corporal depois do treino (Kg)×100 )
             (Massa corporal antes do treino (Kg))

Esta fórmula também indica o volume de água (em litros) a ser ingerido ao longo do treino.

Curiosamente, nem todas as bebidas desportivas são isotónicas. Algumas podem ser:

  • Hipotónicas: quando a sua percentagem em glícidos ronda os 1 a 3%, o que facilita a absorção das mesmas pelo organismo. Muito usadas por atletas que precisam de repor líquidos, sem um reforço de hidratos de carbono. Jóqueis e ginastas usam este tipo de bebida regularmente.

  • Hipertónicas: com mais de 10% de hidratos de carbono, sobrecarregam o aparelho digestivo diminuindo a absorção de fluidos. Por este motivo, o seu consumo durante o esforço físico não é aconselhado. Recomendam-se para depois do exercício, pois permitem um maior aporte de nutrientes.


Quanto às desvantagens das bebidas isotónicas salientam-se as seguintes:

  • Perante um consumo regular, os elevados níveis de acidez destas bebidas corroem o esmalte que reveste os dentes desmineralizando-o de forma generalizada, alerta a Ordem Portuguesa dos Médicos Dentistas.

  • O consumo sem indicação de um profissional, a falta de exercício e a falsa ideia de que a bebida isotónica ajuda a emagrecer, podem dificultar o processo de emagrecimento.

  • O aumento dos sais na corrente sanguínea pode ser um fator desencadeador de sintomas de algumas doenças como a hipertensão, a diabetes, doenças cardiovasculares e insuficiência renal, refere Raul Santo de Oliveira, fisiologista desportivo.

Como podemos concluir, o consumo de bebidas energéticas ou de bebidas isotónicas deve ser adequado a cada circunstância e sempre sem exageros, uma vez que ambas apresentam desvantagens, com destaque para as primeiras, e podem ainda criar dependência. Em alternativa, o melhor será procurar alimentar-se bem, dormir de acordo com suas necessidades e não abdicar do exercício físico regular.

Mykola Stasyuk e Ronaldo Barbosa, 12BT2
Prof. Isabel Cristina (revisão cientifica).

 

 

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