Não faltam provas. Algumas até falam, andam e choram…
“Conhecer a história do Holocausto é conhecer o nível mais baixo onde pode chegar a humanidade… Compreender como os nazis foram capazes de cometer os seus crimes hediondos, com a cumplicidade de outros…, é perceber que cada um de nós tem um dever solene: advogar contra o ódio e defender os direitos humanos de todas as pessoas.” (António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, discurso no dia Internacional de Memória das Vítimas do Holocausto, 27/1/2025)
Nos tempos em que vivemos, somos testemunhas da rapidez com que o ódio se propaga, do poder da internet e, com esta, da crescente desinformação.
Mas não faltam provas. Algumas até falam, andam e choram porque são provas vivas, pessoas, sobreviventes, algumas ainda de boa saúde, capazes de contar elas mesmas as suas histórias, sobre os horrores que aconteceram para lá daquele arrepiante portão de ferro conforme foi testemunhado com o depoimento de Chaja Lassmann que, este ano, completa 100 anos de idade.
Ver, nos olhos da senhora, o sofrimento que a mesma e a sua mãe passaram às mãos de Josef Mengele, famoso médico da SS conhecido como “anjo da morte” por realizar experiências médicas desumanas em prisioneiros no bloco 10 de Auschwitz, apenas pelo simples facto de serem judias, foi uma experiência forte e marcante. “Nem sei o que me fizeram… julguei que jamais poderia ter filhos” - disse.
É importante manter na memória das pessoas as monstruosidades vividas nesta época história, para que nunca mais se volte a repetir. De facto, referiu Michael Rothwell, diretor do Museu, que "Morreram 6 milhões de pessoas durante o Holocausto [...] das quais 1,5 milhões eram crianças." E cada vítima tem uma história única que deve ser valorizada, respeitada e glorificada. "Calha de estar aqui o nome da vítima mais famosa do Holocausto, Anne Frank. O seu nome não está destacado, pois ela, apesar de ser mais famosa, não é mais importante que nenhuma outra vítima." - enfatizou.
O Museu do Holocausto do Porto transmitiu uma mensagem muito importante, já que apresenta uma réplica completa de como eram as condições horríveis dos judeus e outras raças consideradas inferiores (doentes, pessoas com deficiências e ciganos) que foram enviadas para os campos de concentração (sob o pretexto de serem "raças impuras", que queriam "controlar o mundo").
Um dos momentos da visita mais marcantes foi a “Sala dos Nomes”, de paredes iluminadas repletas com os nomes de alguns dos milhares de judeus mortos às mãos dos nazis. Nesta sala memorial, os visitantes tiveram o emocionante privilégio de assistir a uma cerimónia que contou com a presença do Senhor Embaixador de Israel em Portugal, Oren Rosenblat, e Michael Rothwell, diretor do Museu do Holocausto, neto de vítimas de Auschwitz. Das mãos de alunos do CIC, partiu a chama que acendeu a vela com que se homenageou, com um minuto de silêncio, a memória dos que morreram e com que se selou o compromisso de agir ativamente em prol dos direitos dos outros cidadãos, com quem partilhamos a casa da Humanidade, transmitindo às futuras gerações a necessidade de combater o ódio e a discriminação, assim garantindo que esta época trágica nunca mais se repetirá.
O caminho que os alunos percorreram no museu, desde o vídeo inicial “A Luz de Judá” ao testemunho final de Chaja Lassmann, foi marcado por um ambiente denso, bem vincado por aquele momento da história.
Este espaço (https://www.mhporto.com/pt), cuja visita se recomenda, visa dar palco, também, aos portugueses eleitos como Justos entre as Nações, com destaque para Aristides de Sousa Mendes, que, contra as ordens dos seus superiores, tomaram uma posição ativa na luta contra os direitos dos perseguidos com absoluto prejuízo pessoal.
O Genocídio não prescreve com a duração do tempo, podendo e devendo ser sempre denunciados os horrores. A título de exemplo, o Supremo Tribunal Alemão confirmou, a 20 de agosto de 2024, a pena de dois anos de prisão a uma mulher de 99 anos por cumplicidade com o Holocausto, considerando provado que, através do seu trabalho, Irmgard Furchner, antiga secretária do campo de concentração de Stutthof, primeira civil acusada de participação no Holocausto, tinha ajudado ao assassínio sistemático de 10 505 prisioneiros como parte do plano de extermínio de judeus do regime nazi. O Supremo Tribunal Alemão confirmou que Irmgard Furchner, então com uma idade entre os 18 e 19 anos, trabalhou como datilógrafa e secretária do comandante do campo de Stutthof, Paul Werner Hoppe, entre 1943 e 1945, considerando que "o cheiro a cadáveres era omnipresente", pelo que era "inimaginável que a acusada não se tenha apercebido".
Desde então, houve mais de uma dúzia de julgamentos de pessoas idosas em que as antigas vítimas testemunharam sobre os crimes.
No 80.º aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz, o Canal História exibiu um documentário em cinco episódios - "Auschwitz: A Voz dos Sobreviventes", da francesa Catherine Bernstein, que se sugere; "Contem para que o mundo saiba", disseram aos sobreviventes de Auschwitz. E eles assim fizeram.
António Guterres exortou os Estados-membros “de que têm o desafio de guardar as lições da história; dois terços dos jovens da geração “milennial” não sabem que Auschwitz era um campo de concentração”.
Assim, visitar o Museu do Holocausto foi um toque na nossa memória, foi perceber que o silêncio diante da injustiça é uma forma de permitir que a história se repita.
Aliás, recordar é um ato de prevenção para um NUNCA MAIS!
Prof.ª Anabela Vaz Pinto, Prof.ª Maria José Fontes, Prof.ª Maria José Queirós e Prof.ª Paula Oliveira com os Alunos do 11.º e 12.º AJD